11 outubro, 2008

para sempre


já que se fala tanto hoje de cuidados paliativos porque não falar do final dos mesmos ou seja da morte? da morte que não sabemos como dizia o Prof. Agostinho da Silva se nos levará a nós. tudo o que sabemos é que já levou muitos mas não podemos afirmar que nos levará a nós pelo que o ditado que informa que a única coisa que temos de certo na vida é a morte pode não estar assim tão certo como isso. descobri que a morte existia devia ter 7 ou 8 anos. um amigo dos meus pais bárbaramente assassinado pela polícia judiciária em Luanda que se defendeu dizendo que ele se tinha suicidado uma versão em que ninguém acreditou. nem o poder religioso. naquela altura um suicida não tinha direito a um funeral católico e o dele levou 4 (quatro!) padres. foi o primeiro funeral a que assisti e o mar de gente que vi era de tal maneira que julgo não esquecerei jamais o funeral do Barata. depois foi o marido da minha avó paterna. convivia tão pouco com ele uma vez que vivia em Luanda que nem me lembro se o chamava de avô mas julgo que sim. não sei se gostava dele ou não. sei que tinha pena dele pelas regras que a minha avó lhe impunha mas isso não me impedia de estar constantemente a pregar--lhe partidas. lembro-me de me terem obrigado a dar-lhe um beijo depois de morto mas não me obrigaram a ir ao funeral e não fui. a morte dele não me tirou nem acrescentou coisa nenhuma. tinha 12 anos. aos quinze perdi um amigo num acidente de mota. perdi não. o amigo ficou. o que aconteceu foi que ele morreu de acidente de mota. e foi a primeira perda realmente dura que tive. depois foi um primo uma avó o pai a mana velha... e muitos outros pelo meio que não me chegaram a doer. morreram duas amigas muito queridas num espaço curto de tempo. e estes que morreram e que me diziam alguma coisa que acrescentaram alguma coisa à minha vida... estes eu lembro todos os dias e sinto saudades e sei que embora estejam dentro de mim e que não devo chorá-los às vezes choro mesmo. mas não é outra coisa senão a saudade que me aperta demais o coração. e nessas alturas quando o coração está demasiado cheio da dor da saudade aí faz-me muito bem chorar. mas não quero que mais nenhuma das pessoas que amo morra. nem com cuidados nem sem cuidados paliativos. quero tê-los para sempre junto de mim. para sempre.