14 setembro, 2008

Tempo


Onzes de janeiro de dois mil e dois
haverá aos bilhões.

Agora é daqui
há pouco.

Dez minutos
sequer têm tempo
para esses seiscentos segundos
que os recheiam.
As hélices dos ponteiros,
as sombras girassóis,
a areia que esvazia,
enquanto anunciam,
sonham perenidades ínfimas,
prenhes de acasos remotos,
nanoabismos de augúrios
que orbitam num infinito
de culpas, anseios e júbilos.

Agora,
o agora
já era:

brilho cansado,
expira no olhar do bebê
– a mesma luz anciã
que sorriu nas pupilas fundas
do seu avô quando nasceu.

Seiscentos mil milésimos de tempo:
memórias de letras
que terminam nunca;
nódoas que não vemos
num fotograma negativo
daquele ímpeto que viria se.

Tempo é,
faz tempo.

Minutos, segundos, milênios
(é?)
são momentos.

Mas o tempo
– esse dá medo.

(Guilherme Scalzilli)

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