23 setembro, 2008

querida avó


fazes 108 anos tu a avó que eu mais amei para falar verdade a única que eu amei porque só a ti senti como avó. tenho saudades eu e as tuas filhas e os teus netos. o que eles deliravam com os truques de magia que aprendeste aos 8 anos quando fugiste com um bando de saltimbancos e andaste quase um mês até que te encontraram. e com as estórias como aquela do namorado que o teu pai não queria ver nem pintado e tu namoravas da janela e um dia ele descobriu e arrombou a porta do teu quarto e tu não foste de modas saltaste para a rua e partiste uma perna... felizmente naquela altura os prédios eram quase todos bastante pequenos... e as bonecas de trapo que costuravas para as tuas netas. aos 92 anos ainda costuravas, era o que mais gostavas de fazer e vivias sozinha e nunca dependeste de ninguém e logo por azar adoeceste gravemente aqui em casa numas férias de Natal que costumavas vir passar com os meus filhos e foi uma questão de dias. deixei-te no hospital depois de teres feito todos os exames comigo ao teu lado porque a médica percebeu que ficarias assustada se me perdesses de vista e disse-me que te fosse buscar umas horas mais tarde e afinal já não voltaste para minha casa nem para a tua nem para outra qualquer... eu acho que tu voltaste a fugir com o bando de saltimbancos e que andas por aí de terra em terra até que um dia hás-de vir de novo passar uns dias comigo e então os teus netos voltarão para esta casa e voltarão a ouvir as tuas estórias reais e as outras em que imperavam as bruxas más e corria muito sangue. eu continuo à espera da tua visita. querida avó hoje o dia foi mais cinzento porque tu não estavas ao meu lado mas apenas dentro da saudade no meu coração

1 comentário:

Unknown disse...

Excelente post, Eduarda.
EA