a mulher sentada à minha frente parece que não se sente bem. a cara tem ritos de dor e até parece que vai chorar. penso várias vezes em perguntar se precisa de alguma coisa mas acanho-me. sou tímida e tenho medo que ele pense que eu estou a tentar aproveitar-me de uma situação de fragilidade dela para me aproximar. sei lá o que penso. sei que não consigo fazer o que me apetece e que é tão simples quanto perguntar se precisa de ajuda de médico sei lá... não sou capaz. e olho para mim quando cheguei a Portugal e apesar do clima de euforia e liberdade eu sentia as pessoas fechadas dentro de si. hoje a situação é bem pior.
mais tarde um preto na carruagem tenta alcançar um jornal depositado no banco à minha frente. estico-me e dou-lhe o jornal com um sorriso. ele retribui o sorriso à boa maneira africana. agradece mas nem precisava. tudo o que eu precisava naquele instante era de ver um sorriso sem medos nem constrangimentos num rosto. qualquer rosto. calhou ser aquele. mas não me lembro de ver um sorriso assim sem mais nem menos há muito tempo num rosto português. será que estamos a deixar de ser latinos e a tornar-nos tão frios e distantes com o nosso semelhante como os nórdicos? parece que sim.
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