15 setembro, 2008

Mutilação e Degredo


resgato a minha pena
com recatadas oferendas
nêsperas no areal
leite de coco em grandes folhas verdes
e mariscos que apanho nos recifes

depois dos marinheiros saciados
saio do meu abrigo e lavo-me no mar

sofro com cada vela que se enfuna
porém eu sei que a lenda
e os ventos de sudeste
me dão continuidade

único humano
nesta paisagem de poentes tropicais
com o pedaço de língua
que a faca do algoz deixou ficar
vou praticando as minhas guturais

(Luis Amorim Sousa)

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