Já te tinha dito. A tua sala deixou de ser a tua sala. Era uma sala como outra qualquer. Uma sala com coisas, apenas coisas, daquelas em que a gente tropeça, mas sem vida.
Hoje a tua sala voltou a ter vida. É verdade que não é a mesma coisa, mas de qualquer modo é um consolo saber que foi ocupada por alguém que realmente gostava muito de ti. Alguém com uma dose acentuada de loucura mas que realizou algumas das últimas vontades. Sabes muito bem a quem me refiro, não preciso nomear ninguém...
O luto vai chegando ao fim. Fica a saudade que será para sempre com certeza. Algumas pessoas pediram-me fotos tuas. Algumas disseram que tinham medo de esquecer a tua cara. Dei as fotos (fiz cópias que eu mesma arranjei, de modo a que ficasses tu apenas na fotografia. Por mim nunca tive medo de esquecer a tua cara. Sei que as pessoas que amamos não esquecemos. Quando tinha 15 anos perdi um grande amigo. Passados todos estes anos recordo-o perfeitamente e nunca tive nenhuma foto dele...
Seja como for, minha querida, acho que vais gostar de saber que as coisas se hão-de compor, não sem muito sofrimento é verdade, mas o tempo esbate tudo. Tudo menos a amizade de verdade e as feições e gestos das pessoas que amamos.
E como sabes o que vale para mim, o que sempre valeu, são os pequenos gestos. O carinho para aqueles que estão por baixo, um gesto de ternura, um até já, de preferência ao até sempre.
Beijo.
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