Da Adélia já tenho falado por aqui, no meu tempo. Porque ela faz parte do meu tempo, faz parte do meu dia a dia e da minha vida. Sem Adélia a minha vida seria muito mais monótona. Porque ela não é uma mulher: é uma força da natureza. A Adélia já foi taxada de cromo de Portugal mas ri-se disso. E ri bem. Com uma alegria que nos deixa encantados. A minha querida Adélia que diz absurdos que põem toda a gente a rir, com a maior convicção deste mundo, hoje apareceu-me a chorar.
Chora como ri. Com sentimento. Fiquei aflita quando a vi naquele pranto, quis falar com ela, mas não estava capaz de falar e disse-me que falaríamos mais tarde.
Deixei passar um bom bocado, sempre imaginando se algum dos velhotes dela teria morrido ou estaria muito mal, ou se o marido ou o filho que ela adora teriam sofrido algum acidente... mas depressa percebi que não sou adivinha e só saberia o que se passa quando ela me contasse.
Por isso fui ter com ela e então contou-me o drama de uma irmã mais nova, mulher de 38 anos, que tem uma filha de sete, está divorciada há 3 anos, tem um salário de € 600,00 e um encargo mensal só com o pagamento da casa ao Banco na ordem dos € 400,00.
A família vai ajudando, mas enfim, nenhum deles vive muito bem, é gente humilde, os velhotes com reformas mínimas e contas de farmácia máximas, enfim, o dia a dia da maioria das famílias portuguesas.
A irmã da Adélia foi ao Banco e disse que não tinha condições de pagar uma mensalidade daquele tamanho, enfim explicou que quando o compromisso foi assumido a sua vida era uma, agora tudo mudou e o Banco respondeu, se a senhora deixar de pagar fica sem a casa, vai para a rua...
Acontece que esta mulher tem problemas psíquicos hereditários que a levam a auto mutilar-se. Diz que não sente dor. Diz que se vai suicidar. E a Adélia tem medo. Tem medo porque conhece a irmã. Tem medo porque ontem a irmã foi levada para o hospital com os pulsos cortados.
São as pequenas (para nós) grandes tragédias dos que nos rodeiam e de que muitas vezes nem desconfiamos.
Só resolvi contar aqui esta estória, para recordar ao nosso PM, que se diz tão generoso, que casos como o desta mulher existem por aí ao virar de cada esquina, de cada rua deste país. Para ver se ele pode fazer algo para melhorar a vida de gente que sobrevive desta maneira. Para que pense na filha de 7 anos desta mulher que pode ficar órfã e traumatizada para o resto da vida, embora não abandonada porque a família é gente humilde, mas gente boa. Gente generosa de verdade. Que dá até o que não tem para se ajudar.
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