Aos 50 anos tenho a sensação reconfortante de que se morresse hoje, levaria muitos dos meus sonhos cumpridos e sobretudo uma vida muito cheia de lugares diferentes, de família, amigos, amores, casos passageiros ou simples descasos.
Aos 50 anos, quando vejo morrer gente da minha idade que não conseguiu sequer realizar um dos seus sonhos, entristeço. Tanto, que choro. Porque se fossem sonhos muito complicados de cumprir, ainda vá que não vá. Mas não. Gente com sonhos tão simples quanto casar, ter uma família, ser feliz...
Eu sei que a minha vida foi mais uma roda viva que uma vida. Durante anos não tive tempo senão para viver. E viver significou trabalhar para criar os filhos e arranjar ainda tempo para os meus livros, a minha música e para namorar.
Namorar. Namorei muito é verdade. Durante muito tempo tive a mania de me apaixonar por gente. Agora só me apaixono por causas. E tenho pena de ter perdido essa maneira louca de viver a vida e que no entanto deu tão bons resultados, já que tenho os filhos mais do que criados, netos, amigos família e desamores... também não se pode ter tudo. E afinal eu já tive tudo isso, aos 50 anos.
Agora posso sonhar novos sonhos. Sonhos onde estou só ou acompanhada, pouco importa. Porque eu nunca estou só. Estou sempre comigo. Sempre. Ainda que esteja rodeada de gente. É comigo sobretudo que estou. Tentando com isso dar um pouco mais de mim a quem me rodeia.
É por isso que tenho tanta pena que te vás, assim minha querida. Sem teres vivido um só dos teus sonhos, a não ser quando sonhavas de olhos abertos e quem sabe em sonhos de sono profundo, que provavelmente esqueceste como todos nós, ao acordar.
Esta semana por ti, não terei um fim de semana. Não faz mal. É enquanto cá estiveres que quero estar contigo. Quero ainda poder brincar com as tuas pequenas crenças... mas não te direi jamais "eu não te disse que não acreditasses em bruxas?". Porque sei que agora já não vale a pena. E elas deram-te a ilusão de uma realidade que não alcançaste... mas pelo menos esperaste.
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