Carta aberta a Miguel Sousa Tavares

MST,

assim me dirijo ao homem que acaba o seu magnífico livro Rio das Flores com uma anotação assinada tal e qual. Devo dizer que gostei tanto deste romance quando gostei de Equador. Como escritor acho-o (MST), magnífico.

Bem sei que se pode pensar que herdou de sua mãe, poetisa extraordinária da língua portuguesa, o talento para escrever. Não duvido que seja algo genético. O que duvido é que não tenha tido ao longo da sua vida estudantil bons professores de português, ou só o talento não lhe chegaria para escrever tão bem.

Quem por aqui passa, sabe que o detesto como homem. Porque o conheci. Por isso nunca lhe dei um cêntimo a ganhar. Equador foi-me oferecido por alguém que sabia que, adorando ler não gastaria um cêntimo com um livro seu. O mesmo aconteceu com Sul Viagens. Quanto ao Rio das Flores foi-me emprestado por uma amiga a quem o livro também foi oferecido.

Como não tenho o seu talento para a escrita, tendo a dispersar-me e a não ir directa ao assunto que aqui me traz. Consta que o senhor (MST) diz que os professores são os inúteis mais bem pagos deste país. Naturalmente esquece que só aprendeu a escrever porque andou na escola. Em boas escolas, de resto, que a família não tinha razões para economizar. Mas pelos vistos estou enganada e tudo o que sabe, aprendeu assim não sei bem como, talvez caído do céu, num qualquer dos oásis que tem encontrado nos desertos que adora.

E agora que falo em desertos me lembro que talvez tenha sido o sol do deserto que lhe deu volta à moleirinha.

Que o senhor é arrogante, já sabia. Que é bom a escrever também. Que discordo política e futebolísticamente (repare que meto as duas coisas no mesmo saco... porque será?) de si, também. O que eu não sabia era que o seu pensamento acerca de educação e cultura neste país era tão cinzento (para não lhe chamar salazarento).

Disseram-me que anda a circular um email apelando às pessoas para que não comprem os seus livros. A mim tanto se me dá. Nunca comprei, nem comprarei por mais que goste de si como escritor. Porque não quero alimentar essa coisa horrorosa que tem dentro de si e que as pessoas confundem com gente.

Se me quiser processar faça favor. Este blogue não é anónimo. Não há portanto qualquer desculpa para que não o faça.