21 dezembro, 2007

porque nos perdemos meu amor


o paredão está quase deserto, não sei se as pessoas tiveram medo dos pingos se já partiram de férias, e não me interessa essa é que é a verdade, gosto de ter o paredão assim, como se fosse só meu, o mar alterado, galgando e molhando-nos (sim, porque é claro que tu estás comigo), tu não achas muita graça, passas para o lado de dentro e dás-me o lado do mar, dizes que eu continuo a ser a menina que conheceste e por quem te apaixonaste há mais de 30 anos, como o tempo passa, não nos apercebemos, eu não me apercebo, é certo que já fiz 50 mas muitas vezes não sinto o peso da idade, aliás não sinto peso nenhum, sobretudo quando caminho assim contigo, junto ao mar, com paredão só para nós... mas afinal percebo que o paredão está vazio porque as pessoas, como é tradição em Portugal, deixam tudo para o último instante, quanto mais tarde melhor, se as coisas falharem a culpa não é delas é dos outros, dos poucos que se dignaram fazer as compras com tempo, deixar tudo organizado, para não entrar numa de stress, para ter tempo para atender uma chamada de última hora, um convite inesperado, o tempo que nos deixa com tempo para tudo, a falta de tempo que as pessoas têm de que se queixam e eu não, aprendi há muito a ter tempo para tudo, até para chorar enquanto caminho, afinal a sós, quem me acompanha é a tua lembrança, mas é como se fosses real, como se estivesses aqui comigo, como se me ditasses agora o que escrevo.
porque nos perdemos meu amor?

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