vou caminhando em direcção a casa e o ar frio da noite faz-me bem, acalma a saudade que sinto dos tempos em que conseguia juntar todos os meus filhos na noite de consoada. isso deixou de acontecer e nunca mais foi natal. o meu natal acabou, não passa de uma noite de convenção em que me sinto ano após anos mais triste sobretudo quando penso naqueles que não têm um natal para lembrar, daqueles que o lembram dormindo embrulhados em jornais em vãos de escada e apetece-me juntar-me a eles e dizer que também o meu natal não existe, mas eu tenho um tecto como posso dizer uma coisas destas? porque não tenho a coragem suficiente para lhes dar abrigo, eu sei que não posso salvar o mundo, mas salvar um se calhar já não seria mau... porque não consigo fazê-lo... então penso na relação que o meu filho que neste momento está em Itália tem com os sem abrigo de Lisboa a quem trata pelo nome próprio, porque os conheceu quando colaborou com a Cais... lembro-me tanto de ti filho, da tua generosidade, da tua capacidade de deixares tudo para dar a alguém que esteja pior que tu... lembro-me tanto de ti e as lágrimas vêem-me aos olhos, a saudade é mais do que muita e então entro numa florista, compro uma rosa, subo a rua e procuro a casa da tua professora Dulce, que já está reformada, digo-lhe que vou em vez de ti este natal, porque não estás cá para lhe ires dar um beijo e sobretudo vou por mim, para agradecer o bem que ela te fez, para que ela saiba como o seu trabalho foi glorioso contigo e com centenas de outros meninos a quem ela ensinou não apenas as letras e as contas mas também a viver... e ela diz que se lembra sempre de ti, que eras um bom rapazinho, embora o mais traquina de todos, mas atento enquanto na sala de aula ela ensinava tudo o que sabia, tudo o que devia...
aqui fica o meu obrigada professora Dulce, mais uma vez. chorar no seu ombro fez-me bem embora continue a chorar neste momento, e faz-me tão bem porque é tão raro... muito obrigada professora Dulce. muito obrigada a todos os professores que souberam cumprir a sua missão como a senhora... muito obrigada!
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