Há dias assim, tão úteis porque tranquilos, calmos, sossegados, dias em que achamos que temos todo o tempo do mundo e que a eternidade nos pertence... e é bom quando podemos sentir assim. Quer dizer, eu gosto de me sentir assim, calma frente ao mar ainda que o sol esteja por vezes menos visível, um dia um pouco encoberto e talvez por isso também tão calmo. Tão calmo que pude caminhar contigo, conversando de tudo o que tivemos, de tudo o que vivemos, dos segredos teus de que só eu sabia e de outros que só mais tarde vim a conhecer porque os confiaste às tuas filhas, não mos revelaste, talvez porque eu estivesse longe, porque passei tantos anos longe de ti, longe da família, se fosse hoje faria tudo de novo, tu sabes não posso agora mentir e dizer que estou arrependida porque em todos esses anos de solidão, longe da família aprendi muito, sobretudo sobre mim, sobre a minha capacidade de luta e de sobrevivência, ficou-me esse gosto de contar apenas comigo e cada vez mais me apetece esta solidão, este estar contigo quando me apetece, e com os outros também, mas tu minha irmã que farias anos amanhã e a quem eu falo hoje porque amanhã quero falar de outras coisas, e depois hoje é que eu tive todo o tempo do mundo para estar contigo, o mano veio de Senegal mas fugi a estar com ele, hoje não é dia, hoje o dia era teu, só para ti, depois voltarei a ter todo o tempo do mundo para ele e para os outros mas hoje és tu que estás comigo a viver este dia tão tranquilo, tão calmo, tão sossegado, tão útil, querida mana.
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