Como se todo o mundo tivesse alagado e de repente esse bem tão essencial não fosse faltar nunca mais... foram primeiro os dias de mar, como se o oceano todo fosse meu e eu pudesse eternamente manter-me como um feto, recolhida, aconchegada no seu colo. A carícia de um sol aberto num céu azul, azul até demais, de fazer doer o olhar que queria resguardar para ti que me esperavas, afinal com a indiferença do costume, como se eu tivesse partido ontem, como se não tivesse faltado nunca, como se o meu lugar não tivesse sido nunca ocupado por outras pessoas... ainda assim, sabendo que assim é, queria resguardar o meu olhar e não era fácil porque o azul iluminado de sol e mar não pode ser encarado de frente sem o perigo de que me esqueça de quem sou, e eu não quero esquecer... já basta o que me fazes mesmo esquecer, essa mentira instalada na tua vida como se fosse uma coisa a dispensar, qualquer coisa, uma vez que uma coisa apenas, tanto me faz... como um animal abandonado reajo, fujo, desapareço, para sempre, para sempre, ainda que saiba que para sempre é tempo demais.
E faço-me de novo à estrada. Quero lá saber do dilúvio que se abate sobre a estrada, quero lá saber, só quero partir para longe para muito longe, onde exista um novo mar que me possa acolher, longe de ti, da tua vida de mentira, do teu mundo pequenino, tão pequenino e tão convencido de que é enorme, e real e único como as tuas verdades que pensas serem únicas... essas verdades de quem não é materialista mas joga no euro milhões, que sentido faz tudo o que te rodeia, que sentido viver de um passado que foi cruel talvez, mas hás-de reconhecer que também foi justo como tudo na vida, porque obtemos sempre aquilo que plantamos e o egoísmo é a pior das companhias assim como a vaidade, o deslumbramento, a convicção de que somos sábios quando nunca saberemos nada que realmente valha a pena mas que julgamos ter porque as vidas pequeninas, tão pequeninas, um dia destes regresso...
1 comentário:
Eu, detentor de todas as verdades, declaro-me impotente perante a tua verdade.
Quando o olhar teima en não querer obviar as cores que de tão intensas o querem cegar, não ha mais nada a fazer se não buscar outros sois, outros azuis de céu, outros oceanos e entregar o corpo e o sossego, até que de novo as cores voltem a cegar.
Ou então... ficar a um canto com um sorriso apático colado no rosto e representar a personagem da pateta alegre, esperando que aconteça o milagre da refracção da luz...
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