Sei que estás aí e que me vigias como um enorme olho, como um "big brother", inventas um romance, um filme, uma peça de teatro. Pensas como será a primeira cena, essa que abrirá o romance, o filme a peça de teatro. Procuras escrever mas não sai nada. Não programaste, não tens nada na cabeça não te apetece trabalhar e no entanto sabes que tens que o fazer, tem que ser tem que ser tem que ser... qual relógio a frase ecoa tic tac na tua cabeça tem que ser tem que ser tem que ser, tenho que ser capaz, tenho que ser capaz, alguma coisa há-de sair, vá procura recordar, vai lá atrás ao que viveste, mais perto ou mais longe e começa a escrever uma estória, talvez uma carta, qualquer carta, do teu pai, do teu irmão, ou talvez os momentos mais dolorosos quando viste os que mais amaste partirem, para sempre ou simplesmente da tua vida e percebeste que não há lugares vagos, quem partiu não deixa um espaço por preencher, não é possível, podes falar, podes chorar podes sorrir que o espaço está lá, vazio sem poder ser preenchido por nada, por ninguém porque as lembranças tomam conta de tudo, a saudade toma conta de tudo e vais pensando está quase, está quase... quase a chegar o dia de aniversário da tua amiga, da tua irmã, do teu pai... o da tua avó já foi e quem fica não preenche o vazio que ficou, a saudade sempre presente, dolorosa, triste... e eu sem ser capaz de chorar, por ti, por mim, por vós, eu sem saber o que fazer com a minha dor, inventando risos, viagens, passeios, arriscando aqui e ali uma manobra perigosa que afinal é apenas a manobra salvadora, a que nos fará sorrir, a que ficará conhecida como a fuga para a esquerda, faz de conta que tenho um amigo que mora aqui, faz de conta, faz de conta...
Tens que ser capaz, tens que ser capaz...
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