06 setembro, 2007

Um dia destes conto-te.

Pois foi, falei imenso. Ouviste-me com atenção como de costume. É bom poder contar com uma amiga assim.
E agora? Não. Não te vou falar da Madeleine, nem de assaltos com mais ou menos violência, neste país a que nos acostumámos a apelidar de brandos costumes. Hoje ainda me apetece contar-te outras coisas, para além dos problemas do dia a dia. Hoje apetece-me contar-te coisas de quando eu era bem candengue.
De quando o meu mundo era a Rua Ele Rei D. Dinis em Luanda. Das pessoas que habitavam esse mundo e do que faziam os candengues como eu para matar o tempo.
Havia o Tó-Zé, o Zezo, o Toni, o Barrabas, o Jorginho, o meu irmão... menina era eu apenas. E depois havia os "miúdos da casa dos mulatos". O mais novo era o Euclides e ganhava todos os concursos de musica que organizávamos, gritando as canções de Roberto Carlos até ficarmos com medo que as veias do pescoço dele esticassem tanto que quebrassem. No fim ganhava uma laranja. Chegámos a fazer um "conjunto" com instrumentos musicais de madeira, que fabricávamos sem ajuda dos kotas. Esses estavam sossegados quando a brincadeira era a música. Já quando organizávamos guerras "dos brancos contra os mulatos" havia sempre feridos entre nós os brancos que éramos muito menos e menores... mas eu lá ia sarando as feridas com a caixa de costura que tirava à minha mãe e onde colava uma cruz vermelha. Enchia-a com pensos rápidos e mercurocromo. Podia ter dado uma boa enfermeira... mas afinal não dei.
Um dia destes vou contar-te da minha avó Gertrudes. A que me contava estórias todas as noites, sempre as mesmas mas sempre diferentes... Um dia destes conto-te.

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