Não sei se te lembras. Na verdade não sei sequer se te podes lembrar. Não sei nada de ti há quase 30 anos. Mas hoje lembrei-me de ti. A propósito de uma canção, que foi nossa. Aquela que nos fazia sair da discoteca e vir para fora olhar as estrelas... Não sei se te lembras. Não sei se te podes mesmo lembrar.
Agarrei-me a ti como a uma bóia de salvação. Tu não sabes disto. Tu nunca soubeste nada. Apenas aquilo que eu deixava que soubesses. Mas depressa percebi que não eras exactamente uma bóia mas uma âncora que me arrastaria para águas paradas em dois tempos e onde ficaria agarrada contigo...
Eu sei que tu estavas no fundo e provavelmente por lá ficaste porque era lá que te sentias bem. Eu sempre gostei de luz. Mesmo a das estrelas... qualquer luz é preferível à escuridão em que estavas mergulhado e que me atraía como um profundo abismo a que eu queria fugir mas não era capaz.
Hoje lembrei-me de ti. Lembrei-me de nós. E ao olhar para trás percebo que não te conheci. Ninguém te conheceu. Nem tu. Apenas essa vontade que tinhas de fugir para a escuridão, onde te escondias... de onde fingias às vezes sair, rindo e fazer rir... fazendo-me crer que podias afinal ser apenas uma criança arrastada para um poço tão fundo...
À minha maneira, amei-te. Quando eu pensava que aquilo que sentia de mágoa e compaixão era amor... quando eu pensava que o amor era uma coisa dolorosa... se sofria, então só podia ser amor...
Mas hoje eu sei que não era. Era uma vontade irresistível de mergulhar contigo na escuridão. Ainda bem que o apelo da luz foi maior.
Não sei se te lembras. Não sei sequer se te podes lembrar.
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