02 maio, 2007

Sobre os fumadores e o prazer do tabaco.


Durante anos fumei e com muito prazer. Nunca senti os malefícios do tabaco. Não me constipava com mais facilidade que os outros, não me cansava mais que os outros, não sentia qualquer problema... a não ser o rombo que o vício me provocava na carteira. E foi por isso e só por isso, por sentir que 80% de impostos num maço de tabaco não era senão um roubo descarado que deixei de fumar.
Sócrates conseguiu em 2 minutos o que médicos que comigo conviveram ao longo dos anos não conseguiram. Nem as viagens que me ofereciam a Paris me entusiasmaram a deixar de fumar. Era algo que me dava prazer e que eu estava convencida, levaria até ao fim da vida.
Só que um dia, com o último cigarro no maço que ainda tinha comprado a preço antigo mas que sabia tinha sido o último a esse preço, perguntei-me se devia continuar a deixar-me roubar daquela maneira descarada para os cofres públicos. Foi então que decidi que deixava de fumar. O último cigarro está lá (já deve estar estragado, pois já passaram 14 meses). É claro que ainda hoje sinto por vezes a tentação de fumar um cigarro. Em momentos de grande tensão, quando sonho que fumo... mas não voltei a pegar num cigarro e espero conseguir resistir sempre, pois sei que "sou" uma fumadora e pegar num cigarro seria voltar a consumir diariamente mais de um maço. São cerca de € 100,00 que gasto de outras maneiras...
Por isso faz-me uma certa confusão a dificuldade que as pessoas têm em largar o cigarro. Marcar datas, dizem os profissionais, é essencial. Então porque é que eu decido que deixo de fumar no momento e consigo? Porque é que o meu pai, ao fim de 50 anos a fumar, passou por um processo idêntico (o médico disse-lhe que tinha de deixar de fumar e ele saiu do consultório e nunca mais fumou). Certamente haverá pessoas com mais predisposição para os vícios ou será apenas uma questão de força de vontade, de teimosia, de gostar de superar desafios.
Acho que valeu a pena, pois nada acaba com esta situação de triunfo de me ter conseguido ultrapassar a mim mesma.
Por isso não acredito já nos meus amigos que vejo ao longo dos anos a fazerem promessas e apostas de que vão deixar de fumar. Senão lhes der o "clique" jamais deixarão o fumo... que lhes faça bom proveito. Embora hoje compreenda o quanto os fumadores incomodam os não fumadores (o cheiro é horrível e ambientes com fumo deixam-me os olhos a arder em dois minutos), ainda me lembro do prazer que tirava de cada passa de um cigarro. Mas, sinceramente, não me vejo hoje a beijar um fumador... só o hálito é realmente repugnante. Não sei como os meus amigos me aguentaram tantos anos... se bem que a maior parte são fumadores e eu continuo a gostar de estar com eles.
Portanto e para finalizar: querem que a lei anti tabaco resulte? Aumentem o preço do tabaco para um mínimo de € 5,00 por maço e pode ser que malta se comece a dedicar mais aos charros ou à cocaína... Depois é só uma questão de os legalizar e aplicar o respectivo imposto.

1 comentário:

Bartolomeu disse...

hehehehe
Esse remate final, cara MEH,merece a apoteose geral. Incomentável, na medida em reflecte uma raiva figadal contra um tubinho de papel composto de fibras e metais pesados, cheio de uma mistura de folhas secas da planta do tabaco, técnicamente cortadas e compactadas.
Foi este mago que durante anos lhe transmitiu a impressão (falsa) de que possuia o dom da imortalidade e que todo o poder criativo da sua mente se extravasava se entre o indicador e o pai-de-todos, ele se mantivesse na sua pose de tição expelindo o seu hipnotico fio cinzento, ondulante que a fazia projectar no espaço a mente fervilhante de conjectivos pensares.
Afinal e em conclusão poderá confirmar a máxima popular "ha males que chegam por bem". Perdeu com Socrates, mas o benefício de deixar o tabaco, trouxe-lhe benefícios incomensuráveis.