É claro que o reconhecimento foi mútuo e imediato. Ao primeiro olhar. É assim que nos reconhecemos nós, os ciganos, mesmo quando os brancos nos confundem com um deles. Porque para toda a gente os ciganos são gente escura... pois fiquem sabendo que há ciganos louros. Os ciganos reconhecem-se, aonde quer que se encontrem, qualquer que seja a língua que falem...
Portanto ela olhou-me com os seus negros olhos, brilhando na cara morena, adornada por longos cabelos negros, bem tratados, bem penteados, com ganchos dourados a condizer com os brincos, com os fios ao pescoço e os outros, enrolados nos braços... Uma teia para apanhar incautos...
Só nós os ciganos temos o dom de encantar (lançar encantamentos) e adivinhar. Somos nós os ciganos que temos o dom de lançar pragas que se concretizam, quando alguém nos prega uma daquelas que não podemos perdoar. Somos nós que sabemos como vai estar o dia amanhã, somos nós que sabemos ler a sina na palma da mão, somos nós que temos o mundo a nossos pés... Somo nós: os ciganos.
Somos nós os eternos viajantes sem rumo, sem país e sem estado. Somos nós que protegemos a nossa família. Somos nós as que lançamos mau olhado a quem deseja os nossos homens... somos nós também que os servimos e por eles somos servidas sem que os brancos se apercebam.
Somos nós que temos o orgulho como dever e não como direito! Somos nós os ciganos... que estamos em toda a parte, em todo o lado a um só tempo. Somos nós os senhores do Tempo. Nós que desdenhamos os bilhetes de identidade, os cartões de contribuinte, os cartões da segurança social... somos nós que sabemos lidar com os governantes de todo e qualquer país. Porque nós temos o mundo, sempre, na palma da mão!
1 comentário:
Como nasci no Alentejo e desde pequeno que sou do mundo cigano, tenho saudades desses tempos...
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