25 abril, 2007

COISAS SIMPLES


Nunca me canso de olhar para as águas do Tejo.
Está uma manhã cinzento-clara.
As águas são prata, ao longe. Calmas. Só perto, junto à muralha, murmuram. Ao de leve. No sítio, onde esperamos pelos peixes.
Os pescadores. As canas. Em fila interminável.
Também eu aqui pesquei muitas vezes.
E namorei, com aquela que é minha mulher hoje.
Lugar sereno, embora na cidade.
Hei-de aqui voltar, pensei. É só trazer as canas, comprar o isco no Cais do Sodré e sentir, de novo, o sortilégio da espera, do silêncio, dos sonhos perpassando pelo coração, enquanto o tempo passa sem darmos por isso.
Coisas que só os amantes da pesca sabem.
E elas, as que amam os pescadores também.
« Bom dia, amigo», digo eu a um pescador.
« Bom dia»
« Desculpe, ouvi dizer que agora é preciso tirar licença de pesca para pescar aqui...»
«Ah, pois é!», responde-me « E se não tivermos licença, temos de pagar multa...»
Ao que chegámos: castigar os pescadores desportivos, que pescam por prazer, e o que pescam é sempre coisa insignificante!
Ao que chegou a cegueira democrática do...déficit!!!

Eduardo Aleixo