Morri há 10 anos mas agora quero contar-vos como foi a minha vida. Porque foi uma vida bem bonita. E quando me lembro dos tempos em que estava viva, tenho saudades. Sobretudo do meu filho e do meu neto. Que o meu marido está comigo há muito tempo. Veio ter comigo uns meses depois. Que eu não sabia viver sem ele e também não era capaz de morrer sem ele.
Sempre gostei muito da família. Tive uma infância feliz e era muito amiga da minha irmã. Quando chegou a idade de namorar, como andávamos sempre juntas, começámos a namorar dois amigos, ao mesmo tempo.
O meu Carlos era feinho. Quer dizer: é o que dizem porque para mim ele era o homem mais bonito do mundo. Mas eu bem via nos olhos dos outros o que pensavam dele. Mas tinha muitos amigos porque era muito boa pessoa.
Namorámos durante 6 anos, porque ele era funcionário público e ganhava muito pouco. Mas éramos felizes na mesma, porque eu era uma boa dona de casa, aproveitava tudo, nada se perdia e até aprendi umas coisas de contabilidade para ajudar o meu marido que fazia umas “escritas” para fora para nos governarmos melhor.
Depois fiquei grávida e nasceu um belo rapazinho. O meu marido continuava a ter olhos só para mim e eu passei a ter olhos para ele e para o meu filho.
Não se passou nada durante toda a minha vida que mereça a pena contar. Mas foi uma vida boa, tranquila, de muito trabalho (e nunca conseguimos ter nada de nosso) mas sossegada. O meu marido ia aonde eu ia e vice-versa. O filho cresceu sem nos dar grandes alegrias mas também sem nos dar preocupações. Era um rapazinho “certinho”: pelo menos era o que eu pensava. Porque desde que aqui estou soube de umas coisas e comecei a perceber que se calhar a minha nora não era tão embirrenta como eu achava; se calhar ele tinha alguma culpa por ela ser daquela maneira, mal disposta, pouco sorridente, infeliz… quando eu morri eles já estavam divorciados.
A minha neta não gostava de mim e eu também não gostava dela. Mas o menino era muito bom rapaz (como o meu filho) … que afinal parece que não era assim tão bom. Mas aos meus olhos de mãe é claro que ele era perfeito. Até porque abortei de todas as vezes que fiquei grávida depois dele ter nascido que o que o meu marido ganhava mal dava para vivermos com algum conforto quanto mais para ter mais meninos… E mesmo assim o meu Carlinhos teve que andar sempre no ensino público, fez a Escola Industrial (que o liceu era para os meninos ricos que podiam ir mais longe…)
Mas hoje apeteceu-me dizer que estou aqui muito bem com o meu Carlos que está cada vez mais enamorado de mim. As pessoas sorriem quando nos vêem: eu baixinha e gordinha e ele alto e magro, com uma grande corcunda (acho que a corcunda se acentuou ao longo dos anos, à força de querer estar à minha altura). Eu continuo a cozinhar os pratos de que ele gosta tanto e vamos dando uma vista de olhos pelo mundo dos vivos… E percebendo que afinal nem tudo é como a gente pensava: é que à distância às vezes vê-se melhor!
Sempre gostei muito da família. Tive uma infância feliz e era muito amiga da minha irmã. Quando chegou a idade de namorar, como andávamos sempre juntas, começámos a namorar dois amigos, ao mesmo tempo.
O meu Carlos era feinho. Quer dizer: é o que dizem porque para mim ele era o homem mais bonito do mundo. Mas eu bem via nos olhos dos outros o que pensavam dele. Mas tinha muitos amigos porque era muito boa pessoa.
Namorámos durante 6 anos, porque ele era funcionário público e ganhava muito pouco. Mas éramos felizes na mesma, porque eu era uma boa dona de casa, aproveitava tudo, nada se perdia e até aprendi umas coisas de contabilidade para ajudar o meu marido que fazia umas “escritas” para fora para nos governarmos melhor.
Depois fiquei grávida e nasceu um belo rapazinho. O meu marido continuava a ter olhos só para mim e eu passei a ter olhos para ele e para o meu filho.
Não se passou nada durante toda a minha vida que mereça a pena contar. Mas foi uma vida boa, tranquila, de muito trabalho (e nunca conseguimos ter nada de nosso) mas sossegada. O meu marido ia aonde eu ia e vice-versa. O filho cresceu sem nos dar grandes alegrias mas também sem nos dar preocupações. Era um rapazinho “certinho”: pelo menos era o que eu pensava. Porque desde que aqui estou soube de umas coisas e comecei a perceber que se calhar a minha nora não era tão embirrenta como eu achava; se calhar ele tinha alguma culpa por ela ser daquela maneira, mal disposta, pouco sorridente, infeliz… quando eu morri eles já estavam divorciados.
A minha neta não gostava de mim e eu também não gostava dela. Mas o menino era muito bom rapaz (como o meu filho) … que afinal parece que não era assim tão bom. Mas aos meus olhos de mãe é claro que ele era perfeito. Até porque abortei de todas as vezes que fiquei grávida depois dele ter nascido que o que o meu marido ganhava mal dava para vivermos com algum conforto quanto mais para ter mais meninos… E mesmo assim o meu Carlinhos teve que andar sempre no ensino público, fez a Escola Industrial (que o liceu era para os meninos ricos que podiam ir mais longe…)
Mas hoje apeteceu-me dizer que estou aqui muito bem com o meu Carlos que está cada vez mais enamorado de mim. As pessoas sorriem quando nos vêem: eu baixinha e gordinha e ele alto e magro, com uma grande corcunda (acho que a corcunda se acentuou ao longo dos anos, à força de querer estar à minha altura). Eu continuo a cozinhar os pratos de que ele gosta tanto e vamos dando uma vista de olhos pelo mundo dos vivos… E percebendo que afinal nem tudo é como a gente pensava: é que à distância às vezes vê-se melhor!
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