03 setembro, 2011

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Que força é essa - Sérgio Godinho


Não me digas que não me compr´endes
quando os dias se tornam azedos
não me digas que nunca sentiste
uma força a crescer-te nos dedos
e uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr´endes

As palavras interditas


Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

(Eugénio de Andrade)

não é uma prosa feliz


apetece-me barco. apetece-me vela. apetece-me mar. apetece-me sonho. apetece-me fuga. apetece-me sonho. apetece-me ainda branco e azul. azul e branco. mar e ondas. e então? navegar claro. para onde? longe muito muito longe. tão longe que se tornava perto. de quê? de um lugar pequenino onde não se ouvem constantemente palavras feias como fome desemprego doença corrupção. um lugar onde as pessoas roubam comida. das hortas dos outros. da casa dos outros dos mercados e campos. onde quer que haja comida aparece gente com fome. ir para longe de um pequeno lugar (des)governado por uns meninos que passam a vida a correr para um lugar maior onde não há fome porque uma bruxa chamada angela manda meninos como o zezito e o pedrito e o marianito e outros itos (muitos) que andam por esse lugar fazer coisas más nas suas casas. primeiro foi o zezito. andava cá e lá num disparate de voos que todos pagámos só para ouvir a bruxa má e acenar com a cabeça para cima e para baixo para cima e para baixo para cima e para baixo. acho que ficou tão doente de fazer aquele exercício que foi em busca de cura em lugares maiores. espero que não tenha ficado traumatizado porque apareceu o pedrito que o afastou da brincadeira porque gosta muito da bruxa angela e anda encantado a acenar com a cabeça para cima e para baixo para cima e para baixo constantemente. depois chega ao pequeno lugar onde pertence e põe-se a brincar com o vitinho que é um aluno muito marrão e aplicado que está convencido que vai ganhar o prémio nobel da economia mas estou mesmo a ver é que vai dar com "os burrinhos na água". é que já não sou só eu que não os aguento. é o lugar que não temos. esta devia ser uma prosa feliz. mas não é.