11 dezembro, 2010

As palavras que te envio são interditas


As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma  regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
 
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
 
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
 
(Eugénio de Andrade)

restou a rosa

cuido das minhas rosas melhor das minhas roseiras na verdade rosa neste momento há apenas uma mas é uma bela rosa vermelha sangue e enquanto isso os espinhos arranham-me e não sei porquê penso em ti e na rosa que nunca me deste fosse como esta cor de sangue ou negra branca amarela apenas a rosa que não existiu como tu afinal não exististe foste apenas mais um personagem que criei para fazer parte dos meus cenários apenas uma invenção mais uma só isso e então pergunto-me porque mentes tanto afinal se és só uma personagem se não passaste nunca disso porque te dei tanto porque te dei tudo o que era porque fiquei assim com cara de parva quando tu mesmo me chamaste a atenção e me disseste porque te dás inteira se não tenho nada para te dar e tu a repetires e eu teimosa dizendo não percebes nada eu não te dei nada que não tivesse recebido e era assim mas não tinha recebido de ti e o que te dei não te pertencia não era para ser desperdiçado com alguém que nunca me deu uma rosa qualquer rosa que não foste capaz de roubar num jardim como as crianças fazem no dia da mãe e deve ser a única coisa que acho que foi feita para ser roubada mas mesmo assim eu teimava em dar como se o mundo fosse todo meu e agora sinto uma coisa pegajosa que se solta das roseiras algo que me incomoda como isto de estar a pensar em ti quando devia apenas estar a pensar no que estou a fazer. tão insólito este sentimento de saber que afinal o que me fez lembrar de ti quando cuido das rosas não são os espinhos como não foi a rosa que nunca me deste mas esta coisa viscosa que se cola à minha pele. restou a minha rosa.

10 dezembro, 2010

o melhor do twitter

Chico Buarquechico_buarque@chicolatras "As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem"

Clã - Vamos esta noite (clica aqui)



Vamos
Dançar até cair, ir
Juntos vamos
Morrer de rir

De verdade não quero mais que a vida

Sob a leve tutela
De deuses descuidosos,
Quero gastar as concedidas horas
Desta fadada vida.
Nada podendo contra
O ser que me fizeram,
Desejo ao menos que me haja o Fado
Dado a paz por destino.
Da verdade não quero
Mais que a vida; que os deuses
Dão vida e não verdade, nem talvez
Saibam qual a verdade.

(Ricardo Reis)

cenários


construo cenários faço esboços e rascunhos junto tudo e deito tudo fora ou. às vezes guardo linhas soltas à espera que um dia se tornem textos e sei que não jamais se tornarão textos eu não sei. fazer textos só rascunhos apenas coisas que sei que amanhã estarão escondidas no fundo do baú da minha memória e eu já sem memória dessas memórias dos cenários dos rascunhos da vida que afinal me disseram que vivi devagar e eu a pensar estás enganado abreviei tudo como as pessoas que lêem em diagonal para andar mais depressa e mais e mais e eis-me chegada ao ponto. sem retorno. sem memória. esqueci gente que me sorriu e me falou mesmo sem saber que eu era apenas virtual não mais que um cenário um rascunho de gente que ainda assim me falava escrevia ligava com ou sem fio e quando com fios eu apenas uma boneca articulada. mal articulada. uma coisa assim desengonçada sem saber porque alguém fala com ela. claro as pessoas são simpáticas. sobretudo com as bonecas de cenário aqueles rascunhos que hoje morenas daí a nada ruivas a gente muda-lhes a cor do cabelo e dos vestidos (a minha cabeça... quais vestidos) trapos sim trapos cosidos com outros trapos como remendos de cenários rascunhos de gente que pode ser tenha passado na minha vida e a minha memória ai doutora a minha memória a senhora desculpe mas não me lembro de si para falar verdade não me lembro de nenhum doutor simpático todos sérios todos sisudos a senhora desculpe mas tem a certeza que é doutora tem a certeza que é assim amável e conversadora? veja lá não seja apenas mais um rascunho num cenário que amanhã estará no lixo da minha memória.