31 agosto, 2009

o melhor do twitter

Ondjaki
ondjaki... Fui feliz em BH abraçando o meu irmão Paulinho, bebendo vinho tinto e comendo pão - entre brumas de amizade...

Cientista - João Afonso - (clica aqui)

Ao terraço e à varanda do avô
passeios da dimensão do anarquista
ao teatro ao professor à fantasia
no matope um sono de marimbas


Limpidez das areias, tem
em teias de caniço
fugir com o cientista, tem
estrelas a perder de vista

Jornal longe


Que faremos destes jornais, com telegramas, notícias,
anúncios, fotografias, opiniões...?

Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.

Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.

De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.

Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
"Os jornais servem para fazer embrulhos".

E é uma das raras vezes em que todos estão de acordo.

(Cecília Meireles)

cena da vida real

ela chega sempre primeiro. senta-se sempre na mesma carruagem. primeiro escolhia o banco junto ao corredor. minutos mais tarde quando ele chegava beijava-a e ela sentava-se junto à janela. ele tomava o lugar deixado vago e iam conversando de mãos dadas até algés onde ela sempre sai. ele continua viagem. pega sempre no jornal e põe-se a ler. ela não é bonita nem feia. é uma mulher madura com um ar um pouco frágil. talvez por ser demasiado pequena e magra. tem uma cor macilenta de quem nunca apanha sol na praia. ele é de estatura normal muito bronzeado e usa sempre óculos escuros. não é bonito nem feio. diria que me é antipático. sempre foi. usa sempre fato e gravata. um dia reparei que ele não apareceu. ela ficou enervada. olhava o relógio com frequência. quando saiu em algés percebi que estava muito nervosa. depois meteu-se um fim de semana e não os vi. na segunda feira seguinte ela chegou e sentou-se na mesma carruagem mas no banco junto à janela. ele chegou estava o comboio quase de partida. sentou-se ao lado dela disse bom dia e não a beijou nem lhe tocou. abriu o jornal e pôs-se a ler. ela começou a fazer as viagens de óculos escuros e a olhar pela janela. só se levanta quando o comboio para em algés como se esperasse um gesto dele. mas o gesto não vem. hoje a cena repetiu-se mas ela em vez de se pôr a olhar pela janela encostou a cabeça no ombro dele como se estivesse dormindo. impassível ele pegou no jornal e levantou-se para que ela saísse em algés. como se temesse que ela voltasse a tocar-lhe. ela saiu com os óculos escuros na cara e aquele ar de menina abandonada que me deu pena.

30 agosto, 2009

o melhor do twitter

chico buarque
chico_buarque"Tinha cá pra mim; Que agora sim; Eu vivia enfim; O grande amor; Mentira"

Beautiful Day - U2 (clica aqui)

The heart is a bloom, shoots up through the stony ground
But there's no room, no space to rent in this town
You're out of luck and the reason that you had to care,
The traffic is stuck and you're not moving anywhere.
You thought you’d found a friend to take you out of this place
Someone you could lend a hand in return for grace

It's a beautiful day
The sky falls and you feel like it's a beautiful day
Don’t let it get away

Até amanhã


Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

(Eugénio de Andrade)

uma mulher de sorte

agosto vai chegando ao fim mas mais quente do que começou. cheguei a pensar que se tinha esquecido de quem era mas afinal vá lá parece que o senhor alemão não está em campo e agosto lá foi mostrando de vez em quando que afinal a tradição ainda pode ser o que sempre foi. as praias a abarrotar de gente a maré a subir e a molhar os mais desprevenidos. mas parece que ninguém se aborreceu. afinal o calor era tanto que depressa tudo estaria seco. salgado é certo mas seco. é uma sorte para a maioria haver alguns que como eu levantam arraiais cedo se assim não fosse onde estenderiam a toalha? já para não falar no chapéu de sol que teima em não ficar seguro porque logo abaixo de uma camada fina de areia se encontram rochas. é o desespero para procurar um sítio onde o fincar. olha aí cuidado que está uma senhora (a senhora era eu) aí também não que vai fazer sombra para a outra senhora afinal o que eu quero é pôr a geleira à sombra e não vês que não dá porque não há sombra a esta hora ou a sombra está demasiado longe... um problema (agora lembrei-me de uma senhora que diria uma problemática) a mais para resolver. e por lá se ficam a lutar por um lugar ao sol uns e outros por um lugar à sombra. por mim não tive dificuldades porque tudo o que queria era um lugar no mar e aí havia-os de sobra. sempre soube que sou uma mulher de sorte.

29 agosto, 2009

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chico buarque
chico_buarque"Imagina hoje à noite a gente se perder"

O dia da criação - Vinicius de Moraes (clica aqui)

Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

A identidade


A identidade, como a pele,
renova-se, perde-se de sete
em sete anos, muda no mesmo
corpo, torna diferente
a permanência humana.
A identidade é a soma
das intenções, uma foto
instantânea para um propósito
imediato que não dura.
A identidade é um equívoco
para camuflar o coração.

(Pedro Mexia)

pode ser

eu a pensar que estaria uma ventania e afinal... afinal uma bela manhã de praia com um mar encrespado como gosto a convidar ao mergulho às escondidas do nadador salvador infringindo todas as regras qualquer dia lixo-me e multam-me mas a verdade é que sabe muito bem um mergulho no atlântico quando o sol na areia está suficientemente quente. e às tantas sem mais nem menos resolvo olhar para o lado oposto ao mar e percebo que existe um aviso de derrocada da arriba que nunca tinha visto por ali. a bem dizer é apenas meio aviso pois há muito que parte dele sofreu uma derrocada. digo eu. na verdade não sei se foi há muito ou há pouco. sei que nunca me tinha apercebido daquele sinal por ali. e não são poucas as vezes que ali tenho ido nos últimos anos. depois ouço no telejornal a notícia de que tomei nota em primeira mão. a costa portuguesa pelos vistos está a cair aos bocados. não admira. no fundo tudo isto está a cair um pouco pedaço a pedaço. qualquer dia caio eu num buraco e vou conhecer o centro da terra quem sabe tomara que sim desde que por lá haja também um pedaço de mar para mergulhar e sair como se tivesse nascido de novo qual agosto a chegar ao fim qual pensar na cidade a retomar o seu ritmo e bulícios habituais qual nada. um mergulho e amanhã é domingo e mais uns mergulhos e afinal pode ser que setembro não comece já na terça feia.

28 agosto, 2009

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Bruno Nogueira
CorpodormenteChico Buarque é, indiscutivelmente, o maior

Esse Cara - Maria Bethânia (clica aqui)

Ah que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher

Poeminha tentando justificar a minha incultura


Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono.

(Millôr Fernandes)

a paixão da minha vida

"leite derramado" é um daqueles livros que se lê de uma assentada. é como ouvir um velho contar a sua estória dia após dia com as repetições próprias da senilidade. um velho numa cama de hospital. um velho de família quatrocentona daquelas a quem restou apenas o nome porque nem os descendentes é certo que tenham o sangue se bem que usem o nome. e é através da boca deste velho que vamos sabendo da estória da sua família mas sobretudo da sua estória de amor por matilde uma mulata (que ele nunca refere como tal mas como morena pois um assumpção jamais casaria com uma mulata) que gosta de maxexe e samba ao invés da música clássica que durante séculos se ouviu nos casarões da família. essa mulher que o deixa louco de desejo só de olhar para ela e que o deixou com uma filha pequena nos braços e várias estórias diferentes para justificar o seu desaparecimento. porque um assumpção jamais seria trocado por outro homem. e matilde a mulher mais que perfeita jamais deixaria a sua filha de colo para seguir um amante. e as estórias sucedem-se página atrás de página contando os mais de cem anos deste velho que vai trocando a cronologia dos factos embora se aperceba de que o está fazendo. uma estória comovente e divertida contada por um grande senhor que já tinha provado que sabia escrever romances. o que não seria de estranhar já que cada canção que escreve conta uma estória. para mim o melhor compositor contemporâneo do brasil é também um escritor de grande qualidade. depois de "estorvo" como primeiro livro veio "budapeste" onde ficou provado que chico não edita livros por ser um nome conhecido. vende livros porque sabe escrever. é por isso que vivo apaixonada por este homem desde os sete anos. a minha primeira paixão será com certeza a última.

27 agosto, 2009

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chico buarque
chico_buarque"A rosa-dos-ventos danou-se; O leito dos rios fartou-se; E inundou de água doce a amargura do mar"

Pedra Filosofal - Manuel Freire (clica aqui)


Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança

Para os lábios que o homem faz

Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão

Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo

Olhos
a exigir
uma floresta

(Mário Cesariny)

uma estória da vida real

ela vive frente a uma cadeia. uma daquelas em que um pavilhão para 100 detidos alberga 180. o marido era trabalhador mas quando bebia um trago a mais acabava descontando em cima dela. um dia quando voltava do trabalho ouviu um assobio vindo da cadeia. mal chegou a casa abriu a janela e do lado de lá dos muros e grades entre dezenas de rostos que mal distinguia alguém lhe acenou. ela retribuiu. ele arranjou maneira de lhe fazer chegar um bilhete. pedia-lhe que o visitasse. ela pensou. duas três quatro vezes. continuava pensando no dia em que o marido entrou mais uma vez mal bebido e lhe deu uma tareia. aí ela não pensou mais e apresentou-se na cadeia para visitar o seu pretendente. durante muito tempo o namoro prosseguiu. ela conseguia aguentar melhor a má vida que tinha em casa. os olhos estavam brilhantes ela quase nem sentia quando as pancadas se abatiam sobre o seu corpo. mas um dia o marido descobriu a traição da mulher. e quando se preparava para a matar ela disse-lhe serenamente livras-te de mim mas não vais aguentar viver numa prisão. ele baixou a arma saiu de casa e tratou do divórcio. deve ter arranjado outra mulher em quem bater quando lhe apetece. ela esperou que o namorado cumprisse a pena até ao fim. agora vivem os dois na casa em frente à cadeia. estão juntos há quatro anos. ele confessa que no início pensou que seria apenas uma aventura que o ajudaria a suportar os dias de solidão. mas passados 4 anos a viver com ela percebeu que afinal é um casamento. uma prisão de que ambos gostam.

26 agosto, 2009

o melhor do twitter

chico buarque
chico_buarque"Imagina só; Que o teu cão amigo; Só sabe o teu cheiro; Quando estás comigo"

You Can Call Me Al - Paul Simon (clica aqui)

A man walks down the street,
It's a street in a strange world.
Maybe it's the Third World.
Maybe it's his first time around.
He doesn't speak the language,
He holds no currency.
He is a foreign man,
He is surrounded by the sound, sound ....
Cattle in the marketplace.
Scatterlings and orphanages.
He looks around, around .....
He sees angels in the architecture,
Spinning in infinity,
He says, Amen! and Hallelujah

Namorados do mirante


Eles era mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens — a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie — tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silêncio...

(Vinicius de Moraes)

à mulher de césar

continuam os diz que disse a propósito da escolha de dois candidatos arguidos em processos judiciais por parte do partido social democrata. quanto ao candidato isaltino condenado em primeira instância a sete anos de prisão não ouço nada. é claro que de isaltino tudo se pode esperar. o senhor sabe-a toda. e depois vem com a tão em voga "e sou só eu? cadê os outros?" frases com esta dão muito jeito a certas pessoas e por isso são assim como os tailleurs clássicos de preferência negros. estão sempre na moda e caem bem em qualquer lado. desde a festa até ao funeral de alguém menos anónimo onde parece de bom tom aparecer convenientemente vestida. pois hoje ouvi um euro deputado recentemente eleito pelo partido social democrata meter os pés pelas mãos enquanto enchia a boca com palavras como ética e política que segundo ele são coisas que não se misturam. francamente não percebi nada. aliás vou dar-me ao trabalho de ler maquiavel para ver se consigo chegar a conclusões tão brilhantes sobre o assunto como o deputado michelin. é que eu não consigo perceber como é possível ter tanta cara de pau. quando se fala em transparência em política não se podem apresentar candidatos que não brilhem como cristais. a questão não é saber se são ou não culpados. a questão é que com a desmoralização completa dos políticos cada vez mais se aplica mais o ditado "à mulher de césar não basta ser séria. tem que parecer séria". e estes senhores que andam enrolados com a justiça enquanto não provarem que estão absolutamente limpos não deviam ser candidatos a qualquer cargo público. e se fossem realmente dignos ainda que chamados pela nélita recusariam o convite. é o que eu penso.

25 agosto, 2009

o melhor do twitter

Bruno Nogueira
CorpodormenteA Luciana Abreu quer ter 7 filhos. E eu não. Como é que agora se resolve isto?

Futuros amntes - Chico Buarques (clica aqui)

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

A forma justa


Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

suave

no meu país fala-se português. é uma língua tão bonita tão bonita que faz de um gueto um bairro de luxo. pois claro que estou a falar da quinta da princesa no seixal. alguns moradores adormeceram sonharam que estavam nos subúrbios de paris e vai de atear fogo a carros e caixotes de lixo. como a quinta da princesa é um bairro muito pequeno se comparado com os dos subúrbios de paris tudo se passou em pequena escala. apesar disso parece que a policia de intervenção continua por lá. a mim não me parece bem que a polícia de intervenção entre num bairro com um nome tão bonito. se eu morasse na quinta da princesa não havia de gostar de ter a polícia assim tão presente nem carros e caixotes de lixo a arder. mas a culpa será eventualmente de se falar por aqui uma língua tão romântica como o português. e em santarém o francisquinho maria ofereceu ao zézito a medalha de ouro da cidade. depois de dizer que não votará no partido que o apoia para a autarquia de santarém convida o inimigo número um do dito partido para o visitar e oferecer-lhe uma medalha de ouro. é de homem francisquinho. só é pena que não sejas ainda suficientemente crescidinho para deixares a saia da nelita e concorreres sem o apoio do partido dela à autarquia. isto não é por te querer mal francisquinho. é só porque a mim me custa engolir tanta incoerência de uma só vez. e por aqui me fico por hoje. em português. suave.

24 agosto, 2009

o melhor do twitter

chico buarque
chico_buarque"Praia repleta de rastros em mil direções; Penso que todos os passos perdidos são meus"

A Walk On The Wild Side - Lou Reed

Jackie is just speeding away
Thought she was James Dean for a day
Then I guess she had to crash
Valium would have helped that bash
Said, Hey babe,
Take a walk on the wild side
I said, Hey honey,
Take a walk on the wild side
And the colored girls say, doo do doo do doo do do doo, ....

Da tua vida


Da tua vida o que não podem entender
Nem oiro nem poder nem segurança
Mas a paixão do Tempo e de seus riscos
Tu buscaste o instante e a intensidade
E foste do combate e da mudança
Por isso um rastro de ruptura e de viagem
Ou talvez este fogo inconquistado
Como breve eternidade
De passagem

(Manuel Alegre)

chega

não me peças nada mais. tudo o que tinha para te dar dei. em tempo útil. não percebeste que esse era o tempo de receber e retribuir. e eu cansei-me. cansei de esperar que percebesses que era eu que ali estava. cansei de esperar que me olhasses com ternura. cansei de esperar que um sinal me dissesse que estava a apostar no cavalo certo. e então parti. decidi que para mim não existes. e é assim que hás-de continuar. uma inutilidade inexistente. não tenho nada para te oferecer. tudo em mim se tornou um deserto. nada dentro de mim se quebrou porque já não havia nada para quebrar. eu já tinha reunido todos os cacos e reconstruído com cola transparente o que havia para reconstruir. e se parti foi para evitar que alguém voltasse a quebrar tudo o restou de mim. aprendi. sempre disseste que sou uma mulher inteligente. resolvi acreditar em ti e mostrar que sou capaz de não repetir erros. por isso apenas conseguiste deixar atrás de ti um deserto. um monte de coisa nenhuma. e nem sequer me dói. e é por isso que te digo que para ti o que há é nada ou coisa nenhuma. podes escolher. eu já fiz a minha escolha e disso te dei conta em devido tempo. não estou feliz mas estou tranquila. e não troco esta tranquilidade pelo vazio que me queres oferecer. dá a outra pessoa as tuas mãos cheias de nada. porque eu já recebi de ti a minha parte. chega.

23 agosto, 2009

o melhor do twitter

chico buarque
chico_buarque"E algum amor talvez possa espantar as noites que eu não queria; E anunciar o dia"

Um dia desses - Adriana Calcanhoto (clica aqui)

Meu pobre coração não vale nada.
Anda perdido não tem solução,
mas se você quiser ser minha namorada
vamos tentar, não custa nada.
Até pode dar certo, ai ai.
E se não der certo eu pego um avião,
Vou pra Xangai e nunca mais eu volto pra te ver.
Um dia desses eu me caso com você
Você vai ver, ai ai, você vai ver
Um dia desses de manhã com padre e pompa, você vai ver como eu me caso com você.
Um dia desses eu me caso com você
Você vai ver, você vai ver
Um dia desses de manhã com padre e pompa você vai ver como eu
Me caso com você.


Os Amantes de Novembro


Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.

(Alexandre O'Neill)

o lado branco

o dia perfeito de praia. sossego completo. como eu gosto de ficar assim longe de tudo e perto de coisa nenhuma sem ter que me preocupar se alguém irá passar por cima da minha toalha e cobrir-me de areia ou eventualmente despenhar-se por cima de mim e partir-me um braço uma costela um dedo sei lá qualquer coisa que me impeça de gozar a praia como gosto. e mais ou menos de 15 em 15 dias mesmo no pico do verão eu consigo ter uma praia assim para mim. e se tenho a sorte de ter três dias para gozar assim que bom que é. pois sabe-me a pouco. porque quando consigo finalmente fazer uma sesta de três horas quer dizer quando estou suficientemente descansada tenho que voltar ao trabalho. e até que chegue ao meio de setembro a coisa será sempre a piorar. gosto de trabalhar em agosto mas a verdade é que o que me dá prazer também me aumenta significativamente o volume de trabalho. quero dizer que o facto de as pessoas estarem ausentes de férias faz com que eu sinta os lugares mais próximos de mim mas também me obriga a um esforço triplicado para dar resposta a tudo. é que a crise está aí. o que significa que cada vez mais gente não tem meios para sair de casa e aproveita as férias para tratar da sua vida. acontece que às vezes sou apanhada a meio do percurso dessas pessoas e pronto. tudo nesta vida tem um lado negro e um lado branco. estes três dias foram um lado branco. sobretudo o dia de hoje. mais um domingo quase quase perfeito...

22 agosto, 2009

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Bruno Nogueira
CorpodormenteEstou a fazer uma coisa complicadíssima, apenas por lazer: deixar crescer a barba, mesmo não a tendo

Olé Olá - Chico Buarque (clica aqui)

Eu sei que o violão está fraco, está rouco
Mas a minha voz não cansou de chamar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, ninguém quer sambar
Não há mais quem cante, nem há mais lugar
O sol chegou antes do samba chegar
Quem passa nem liga, já vai trabalhar
E você, minha amiga, já pode chora

esta grandeza de não a ter


esta grandeza de não a ter

é mais pequena que a de não desejar tê-la

e se o preço de participar é grandeza

não contem comigo

não participo

não participo nem contra grandeza


nasci ar

em forma de gente

nasci luz

em forma de gente


não me compreendo

e respiro-me

e vejo-me textual

a forma de gente faz-me agir fora do que nasci ar

fora do que nasci luz

e nasci ar para forma de gente

e nasci luz para forma de gente

nasci antes de mim

antes de forma de gente


era génio antes de nascer

em forma de gente

a forma de gente não me deixa ser o génio que nasci.


(Almada Negreiros)

decidi


decidi. não vou ao teu encontro. não quero perder esta companhia que a lembrança de ti me tem feito ao longo de mais de trinta anos. a gente apega-se a certas coisas. a certas causas. a certas pessoas. e de tudo me tenho conseguido afastar. apenas porque a lembrança desse amor me tem acompanhado através de todos os amores. é esta lembrança que me tem sustentado. esta lembrança que me apoia nos momentos difíceis. é quando a solidão se torna a minha única companhia que ela surge para me dizer que não estou só. nunca estarei só. desde que preserve esta lembrança. e para o fazer devo manter-me afastada de ti. devo recordar o rosto que tinhas. não posso misturar agora estórias que correram sempre em paralelo. não houve qualquer reencontro nem sequer uma tentativa séria de o fazer. descobri que se não deixei de perseguir o teu rasto foi apenas para manter mais limpa e brilhante a minha lembrança desse amor que nunca aconteceu. agora que estás aqui tão perto de mim nada farei para te reconhecer. poderás passar por mim como passam tantos homens que não sei quem são. estou certa de que não te reconhecerei. a lembrança do teu cheiro desapareceu. e o que recordo de ti tem muitos anos. tantos que seria impossível reconhecer-te hoje onde quer que estejas. olho o que me resta de ti. o teu retrato. e nem no retrato te pareces contigo. tu não eras tão bonito como o retrato. eu não me lembro de ti como no retrato. de resto nunca te reconheci naquele retrato. mas guardo-o. porque por trás está a tua letra que não será com certeza a letra que tens hoje. passou muito tempo. e o meu tempo é quando. a lembrança de tudo pode acompanhar-me através do tempo. mas se tentasse estar contigo perderia uma dose muito importante do que foi a minha vida. porque a lembrança de ti teve tanta influências nas minhas decisões como certos conselhos. por isso. deixa-te estar aí. continuarei atenta às tuas migrações. mas apenas isso. espero que continues por perto. mesmo sem querer estar contigo sinto-me confortável sabendo que estás tão perto de mim.

21 agosto, 2009

o melhor do twitter

chico buarque
chico_buarque"Pense que eu cheguei de leve; Machuquei você de leve; E me retirei com pés de lã"