30 junho, 2009

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David Fonseca
davidfonsecahttp://twitpic.com/8i17c - Na porta de uma igreja, um aviso em forma de revelacao. E se Ele ligasse, seria a cobrar no destino?

Basta um dia - Chico Buarque (clica aqui)

É só
O que eu pedia
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia

Sangue na sapatilha ou Enigma da liberdade

(para Pina Bausch)

De criança brincávamos de esconde esconde.
Ainda se lembra de nossos jogos?
Todos se escondem, um espera
O rosto contra uma árvore ou parede
As mãos sobre os olhos, até que o último
encontre seu lugar, e quem for descoberto
Tem que correr do pegador.
Se chegar primeiro na árvore, está livre.
Se não fica parado no lugar
Como se bater a mão em uma árvore ou parede
O pregasse ao chão como pedra sepulcral
ele não pode se mover até que o último
Seja encontrado. e às vezes o último
Por estar tão bem escondido, não é encontrado.
então todos esperam petrificados
cada qual seu próprio monumento, pelo último
e às vezes acontece morrer um
Seu esconderijo não é encontrado, não há
Fome que o faça escapar de sua morte
Aquela que o encontrou fora da fila
Os mortos não tem mais fome.
Então não há ressurreição. O pegador
Revirou cada pedra quatro vezes.
Agora só pode esperar, o rosto
Contra a árvore ou parede
as mãos sobre os olhos, até que o mundo
Tenha passado por ele.
Ponha suas mãos sobre os olhos irmão.
Os outros, que o pegador pregou ao chão
Ao bater a mão em uma árvore ou parede não correram
Depressa de seu esconderijo que não era bem seguro,
Eles agora não tem mais sobre seus olhos as mãos,
Não mais podem se mover e também os olhos não podem fechar
de acordo com a regra do jogo.
Como pedras no cemitério esperam eles
Com os olhos abertos para o último olhar.


(Heiner Müller )


o charme de amado luís


meu amado luís (assim à francesa pois é mais chic e o teu cabelo grisalho merece) que bem que disseste prometa-me que volta à secretária de segurança interna dos usa e que bem que ela respondeu prometo. foi um lindo momento meu amado luís que deuje te conserve assim lindo com essa bela cabeleira grisalha e esses dotes cavalheirescos deve ser por isso que o josé te convidou para administrares os negócios estrangeiros cá no burgo. é que bem vistas as coisas há cada vez mais mulheres a quem seduzir e que fácil terá sido seduzir esta avantajada senhora americana. aposto que sonhará contigo pelos próximos dias atrevo-me mesmo a apostar que poderá sonhar por várias semanas a menos que lhe apareça outro mais jovem e mais guapo o que acho todavia muito difícil. abençoado sejas pois pela tua cortesia. o que o josé tem a aprender contigo! ah se ele conseguisse um sexto desse teu encanto... mas não. ele bem tentou adoçar a imagem mas a coisa não saiu muito bem. é que o josé não estudou teatro. não faz parte do curso de engenharia dele ao contrário daquele fantástico inglês técnico que ele aprendeu tão bem tão bem que a todos nos encanta. o que vai equilibrar as forças entre o josé e nelita é que realmente entre os dois venha o diabo e escolha. eu nem sequer me atrevo a fazer pin pan pum prefiro continuar a votar na oposição naquela que os chateia e que lhes deita a língua de fora que é o que me apetece a mim fazer exceptuando claro o amado e grisalho luís que terei pena de ver desaparecer dos ecrãs de televisão se o josé não ganhar as eleições como se prevê ou ganhando se por uma daquelas crises de mau feitio o despedir. ficarei triste. tão triste balha-me deuje. e que continue a abençoar-te com o charme da tua cabeleira.

29 junho, 2009

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Ondjaki
ondjakiquando o rinoceronte / encontrou Ionesco numa rua deserta / disse na sua voz fria: / "agora nós, criador"...

Madalena - Gilberto Gil (clica aqui)

Entra em beco sai em beco
Há um recurso madalena
Entra em beco sai em beco
Há uma santa com seu nome
Entra em beco sai em beco
Vai na próxima capela
E acende um vela
Pra não passar fome


Um homem nunca chora

Acreditava naquela história

do homem que nunca chora.


Eu julgava-me um homem.


Na adolescência

meus filmes de aventuras

punham-me muito longe de ser cobarde

na arrogante criancice do herói de ferro.


Agora tremo.

E agora choro.


Como um homem treme.

Como chora um homem!



(José Craveirinha)

uma estória africana


uma estória de mentiras. uma estória que acaba por não ter história porque se reinventa na boca de cada personagem a todo o instante. como todas as estórias com várias versões. todas elas de verdade. todas elas de mentira. um livro que lembra muitas vezes uma peça de teatro. será facilmente adaptada ao cinema ou ao teatro. uma bela estória sobre áfrica e sobre a relação entre colonizados e colonizadores. uma estória que prova que passados mais de 30 anos as marcas da colonização estão no coração de quem a viveu. às vezes são marcas de amargura. outras são marcas de alegria. como tudo na vida. há sempre dois lados para contar uma estória. no caso de "venenos de Deus remédios do Diabo" há muito mais que dois lados. uma infinidade de estórias para contar a estória de um grande amor e o estranho caso de deolinda a bela mulata por quem se apaixona o estudante de medicina que chegado a áfrica em busca do seu amor se vê envolvido numa trama que o enreda. o estudante quase médico passa-se por tal e é levado a oferecer à família de deolinda vários presentes que a falecida supostamente viva na cidade lhe pediria por carta. uma estória no meio de muitas estórias. uma verdadeira estória africana. daquelas que ouvíamos nas noites de luar sentados em volta da fogueira com a dona rita no meio a contar causos dos tempos do antigamente como lhe chamam os mais velhos. Mia couto como sempre. no seu melhor.

28 junho, 2009

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Ondjaki
ondjaki... encontrava quase sempre nas minhas descrições / o traço vincado da distorção... / só sei viver as coisas pondo um pouco de mim nelas...

A Rita - Chico Buarque de Hollanda (clica aqui)

A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel

As mulheres ocas


Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.
Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.

(Vinicius Moraes)

escândalos aparte


continuo sem perceber porque é que joe berardo não investe um pouco do seu dinheiro em si mesmo. quero dizer mais uma vez a joe que vá à escola ou contrate um professor de língua portuguesa. é que se torna confrangedor de todas as vezes que se apresenta frente a uma câmara de televisão. hoje por exemplo no telejornal da sic não consegui perceber nada do que tentava explicar em relação ao que tenciona fazer para acabar com a escandalosa conduta de jardim gonçalves que detém uma série de privilégios pagos pelo bcp mesmo depois de se ter reformado. convenhamos que ter 40 (quarenta! balha-me deuje. o que é que pesa na consciência do homem?) seguranças deve ser qualquer coisa muito parecido com a segurança de um qualquer rajá saudita endinheirado. será que o presidente de portugal ou algum membro do governo tem assim tantos seguranças? espero que não. mas voltando à vaca fria. gostava que joe berardo investisse realmente um pouco em si mesmo. eu sei que nem todos temos facilidade de comunicação oral. eu por exemplo sou um desastre. mas também sei que é algo que se pode melhorar. que há peritos que podem ensinar a comunicar. eu não preciso de comunicar em público por isso não estou preocupada. mas joe berardo por muito que eu não goste do seu estilo de novo rico devo confessar que ganhou uns pontos nesta guerra aberta contra o senhor talvez mais seguro do nosso pequeno país. por isso joe vai por mim. investe em ti homem! para que te serve tanto dinheiro?

27 junho, 2009

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chico buarque
chico_buarque"Se lembra do futuro; Que a gente combinou; Eu era tão criança e ainda sou;

Wasting Time - Jack Johnson (clica aqui)



im just a waste of her energy
and shes just wasting my time
so why dont we get together
and we could waste everything tonight
and we could waste
and we could waste it all tonight

A um homem do passado


Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

(Manuel António Pina)

e como cheguei à galinha do vizinho?


sinal dos tempos. o verão continua indeciso. tal como michael jackson que nunca soube se queria ser branco ou preto homem ou mulher anjo ou demónio. o verão não sabe se quer ser primavera ou outono. julgo que já ponderou mesmo a hipótese de se inverno. percebi isso quando fiz a minha pausa para o almoço. estava frio na rua. frio de verdade em junho em lisboa. um frio que me fez desejar ter vestido um casaco. um tempo que não entendo. afinal de contas fala-se de aquecimento global e o que eu sinto é mesmo um frio global. um frio que vem de dentro. um frio que está dentro de mim e na saudade que sinto de ti. do teu abraço apertado de quem não tem medo de mostrar afectos. de quem paga em dobro o amor que recebe. alguém que se envergonha de pequenas coisas mas que um dia não teve vergonha de mostrar os seus sentimentos. que escreve e diz o que sente. alguém que está disposto a entregar-se sem pensar duas vezes. alguém que poderei amar quem sabe da mesma maneira. sei que sinto falta do teu abraço apertado das tuas mãos no meu rosto dos teus olhos percorrendo o meu corpo como se fosse o primeiro corpo que olham. sinto tanta falta. de ti e do teu país onde o verão ainda sabe que é verão apesar de em tudo o resto se assemelhar ao meu país. a todos os outros países que afinal todos somos cidadãos globais e todos desejamos a galinha do vizinho que afinal não é nem melhor nem pior do que a nossa. é igual.

26 junho, 2009

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Presidente Lula
LuisInacioMáicol Jéquison morreu. Aumento de batismos com este nome será algo na faixa de 79% neste ano, pelo índice DATAFODASE

Ate o Fim - Chico Buarque e Ney Matogrosso (clica aqui)

Não tem cigarro acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim ?
Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou
Mas vou até o fim
Como já disse era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

Regresso à fuga


a noite de escuros voos apanhou-me

com a cabeça acesa numa teia de tinta

é sempre uma mentira existir

fora daquilo que está no fundo de mim

abro

o livro das visões

e uma cidade são todas as cidades trituradas

na memória calcinada do homem nómada


canto

ó resplandecentes águas ó murmúrio quieto

das areias

um pulso que se abre e estremece violento

ó dor da árvore ó surdo ruído do coração

onde a seiva das bocas brilha derramando-se

sobre o corpo

que na asa do migrante pássaro navega

ávido de mundo e desolação.


(Al Berto)

incapacidades à parte


realmente não me parece o tema ideal para uma sexta feira que para mim não é ainda um dia com o fim de semana à porta uma vez que trabalho amanhã o que fará com que o meu fim de semana se reduza a um dia. pois... não me queixo. é que para quem já está de fim de semana se calhar não é assim uma grande ideia falar da morte de Michael Jackson. sobretudo alguém como eu que nunca foi fã do génio da pop precisamente porque nunca foi fã de pop. isso não invalida que reconheça o mérito de Michael. mas a partir do momento em que ele decidiu modificar a sua cara e a cor da pele o respeito por ele como pessoa esfumou-se completamente. e em vez dele apareceu a pena por um jovem que podia ser alguém brilhantemente preto não se aceitar a si mesmo. e não me parece que alguém que não se ame a si mesmo possa ser alguma vez feliz. e Michael tornou-se um ser andrógino. nem preto nem branco nem homem nem mulher. construiu uma coisa em vez de um ser humano. realmente sempre critiquei este tipo de gente que não se aceita como é. assim como não consigo entender os que perseguem o segredo da eterna juventude. isso não existe. mesmo que um dia seja possível tornar uma pessoa de 60 anos em alguém com o aspecto físico de 20 isso será sempre ridículo. porque por dentro a pessoa tem 60 anos e quanto a isso não há nada a fazer. que se viva uma vida saudável. que se aprenda a aceitar tudo o que a vida nos dá e a virar o jogo e até a mesa quando preciso for. lutar quando for preciso. mas por algo que valha a pena. não pela eterna juventude. não para mudar de cor ou esticar os olhos e tornar o nariz mais afilado... só para terminar. há mais de 30 anos conheci uma jovem mulher que processou o cirurgião que a operou às adenóides porque ele decidiu modificar-lhe o nariz. era um nariz tipo Sreisand. e ele decidiu que ela ficaria mais bonita com um nariz pequeno. acontece que ela não se reconhecia ao espelho e isso passou a causar-lhe um enorme desconforto. não se reconhecer. por isso processou o médico. eu faria o mesmo. e desculpem-me este preconceito. não consigo entender as pessoas que querem ver do outro lado do espelho outra pessoa. é uma das minhas incapacidades. agora Michael morreu um homem diferente do que nasceu. isso não me parece bom. mas talvez eu esteja enganada.

25 junho, 2009

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Ondjaki
ondjakio ford verde do TioJoaquim / ficou parado no portão / com medo das balas mas sobretudo / triste / porque ninguém o levou...

I'm Your Man - Leonard Cohen (clica aqui)

And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man

If you want a lover
I'll do anything that you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you

A amiga deixada

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

Musgo da piscina,
de uma água tão fina,
sobre a qual se inclina
a lua exilada.

Antiga
cantiga
da amiga
chamada.

Chegara tão perto!
Mas tinha, decerto,
seu rosto encoberto...
Cantava — mais nada.

Antiga
cantiga
da amiga
chegada.

Pérola caída
na praia da vida:
primeiro, perdida
e depois — quebrada.

Antiga
cantiga
da amiga
calada.

Partiu como vinha,
leve, alta, sozinha,
— giro de andorinha
na mão da alvorada.

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

(Cecília Meireles)

um livro para colorir


uma vez perguntei a S porque demonstrava tanto afecto por mim. respondeu que gostava de mim. que gostava muito de mim. porque segundo S eu sou diferente das outras pessoas. é claro que não sou. todavia há uma onda que atira S para os meus braços sempre que me encontra na rua. podemos levar semanas sem nos vermos ou encontrar-mo-nos todos os dias como tem agora acontecido. S abraça-me como se estivesse a afogar-se. S fica assim durante mais de 1 minuto abraçando-me com muita força. como se eu fosse uma âncora. e beija-me nas faces repetidamente. e depois segura-me o rosto entre as suas mãos e olha-me nos olhos e pergunta se estou bem. hoje a cena repetiu-se. respondi à pergunta sim S estou bem ou melhor estamos bem. a caminho de casa recordei o encontro de hoje e pergunto-me a mim mesma o que faz com que caiam nos meus braços pessoas de quem desconheço praticamente tudo. sei o seu nome e que tem uma filha pequena. costumo dar um brinquedo à pequena I pelo natal. só porque gosto de alimentar a estória do pai natal junto do mais pequenos. e também porque gosto de S e gosto de I a sua pequena filha. mas não sei porque gosto. são pessoas como dezenas de pessoas simples que me rodeiam. pessoas tão simples quanto eu que têm dias bons e dias maus. que riem felizes ou entram em depressão como aconteceu com S há uns meses. mas é destas pessoas simples e bonitas destas pessoas que me mimam todos os dias sem que eu tenha feito algo para merecer o seu afecto que eu encho minha vida de cor. como um livro de colorir.

24 junho, 2009

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David Fonseca
davidfonsecaAcho que hoje posso citar o grande Sérgio Godinho, "Já joguei ao boxe, já toquei bateria" :) Não tarda estou maior que o Michael Phelps.

Muda de vida - Humanos (clica aqui)

Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Inscrição

Quem se deleita em tornar minha vida impossível
por todos os lados?
Certamente estás rindo de longe,
ó encoberto adversário!

Mas a minha paciência é mais firme
que todas as sanhas da sorte:
mais longa que a vida, mais clara
que a luz no horizonte.

Passeio no gume de estradas tão graves
que afligem o próprio inimigo.
A mim, que me importam espécies de instantes,
se existo infinita?

(Cecília Meireles)

prosa de uma mulher cansada


estou cansada de ouvir palavras como despedimento colectivo lay off centro de emprego aumento de desemprego. estou cansada de ouvir palavras que me obrigam a ver cada vez mais famílias em dificuldades. estou cansada de ouvir os que têm trabalho queixarem-se de que têm trabalho demais. estou cansada de mim. cansada de não poder fazer nada. cansada de vir para aqui gritar a minha revolta quando já não posso mais fazer de conta que à minha volta tudo vai bem tudo cor de rosa tudo em paz. estou cansada de viver um país de faz de conta que estamos todos muito satisfeitos. que afinal todo o mundo se queixa do mesmo. e eu sei que é verdade. que todo o mundo se queixa mesmo. do mesmo. talvez fora da europa a crise não se faça sentir da mesma maneira. e depois se há os que não baixam os braços (que horror isto não tem nada a ver com os cartazes que vejo por lisboa todos os dias) também há quem entre em profundas depressões. e como posso não achar que quem se vê numa casa em que ninguém tem emprego se deixe afundar no desespero? e depois o que vejo? vejo também um povo que apesar de todos os pesares festeja os santos populares. ele foi o santo antónio de lisboa. ele foi o são joão do porto. ele são as festas de cada concelho (particularmente as do meu que parecem não ter fim). e ou é impressão minha ou há muito tempo que não via tanta gente pelas ruas a festejar. o quê? é o que eu me pergunto. o que festeja o povo português? provavelmente nada. provavelmente tenta apenas esquecer a amargura num copo de vinho tinto.

23 junho, 2009

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Ondjaki
ondjakiMorava longe, fingindo-se japonês; tinha olhos rasgados por dentro/em busca de um amor/que brotasse do musgo/ou das pedras...

Telegrama - Zeca Baleiro (clica aqui)

por isso hoje eu acordei
com uma vontade danada
de mandar flores ao delegado
de bater na porta do vizinho
e desejar bom dia
de beijar o português da padaria
oh mama oh mama oh mama
quero ser seu
quero ser seu
quero ser seu papa

Belo belo


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo das constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo-que foi? passou! - de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples..

(Manuel Bandeira )

que bom que foi


3 dias sem trabalhar parecem-me quase umas férias. é verdade. e por isso regressei hoje ao trabalho com mais alegria. às vezes brinco dizendo aos colegas que vão de férias que terão saudades minhas. é que brincando ou não a verdade é que eu às vezes tenho saudades. é claro que os intervalos regulares a que me obrigo porque sei muito bem como funciono melhor também contribuem para que não entre numa situação de stress como muitas das pessoas que me rodeiam. na verdade não entro em situações de stress porque gosto do meu trabalho. já fiz muitas coisa nesta vida. e de todas aprendi a gostar. como faço os possíveis por não me limitar a aturar quem me rodeia. se bem que a maior parte das vezes a minha maior dificuldade é a de me aturar. e é por isso que digo a quem me quer ver a viver como o comum dos mortais com um parceiro eu respondo que quanto mais gosto de alguém menos quero viver com essa pessoa. porque isso sim seria um acto terrível. gosto de partilhar a minha vida comigo mesma. e com todos aqueles que aceitam de uma maneira ou de outra partilhá-la. à minha maneira. estas são as regras do jogo. isto para dizer apenas que regressei fresca ao trabalho e que nem o facto de o comboio que me levaria de alcântara terra ao emprego ter chegado avariado me estragou o dia. afinal em compensação ganhei uma viagem fantástica no comboio da linha 2. é que para compensar o atraso o maquinista fez uma demonstração de como é acelerar um comboio. e que bom que foi.

22 junho, 2009

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GabrielGarcíaMárquez
ElGaboDicen que para escribir se necesita sólo una página en blanco, pero yo empecé con diarios ya impresos y entintados

Pagava pra ver - Paulo Gonzo (clica aqui)

no mar cinzento e sombrio
pelas vagas destruídas
essa proa altiva
no mar de sonhos vazios
de ti própria fugitiva
sem história sozinha e esquecida

pagava pra ver
quem atrás dos panos
se esconde afinal

Estrelas Cadentes

No universo, Os deuses, Em forma de estrelas, Brincavam de esconde-esconde Feito crianças mágicas. Aqui, na terra, Algumas pessoas (sérias mortais), Julgavam-no estrelas cadentes. Faziam pedidos De esperança, futuro melhor, E até casamento... Mal sabiam que era apenas brincadeira.
(Sérgio Vaz)

as minhas companhias


acompanhei Ondjaki Pi (ou 3,14) e a Charlita na aventura de evitar a desplosão das casas da PraiaDoBispo. e gostei da companhia dos três e mais das famílias respectivas. da AvóDezanove que assim ficou conhecida depois de lhe ter sido amputado um dedo do pé com gangrena. da AvóCatarina que só aparece quando quer e que às tantas se foi de vez e não mais apareceu ao neto que tantos conselhos lhe pedia. ao senhor Tuarles e sua mulher pais de Charlita e detentores de uma aka 47. gente que viveu estórias num tempo de antigamente. um tempo a que Ondjaki vai regressando para contar estórias inventadas mas com um fundo real nem que seja apenas na sua imaginação. imagino que tenha sido um menino levado da breca. um menino que cresceu brincando num tempo de infância num lugar próprio e inigualável para qualquer criança. só quem conheceu luanda pode entender a magia das estórias que Ondjaki conta. mesmo as estórias passadas num tempo que não foi o tempo que vivi. tempo de antigamente mas que já não foi um tempo a que possa chamar meu em luanda. mas é sempre um prazer ler os romances de Ondjaki. ele conta estórias. que eu leio mas que na realidade é como se estivesse a escutá-las. pela maneira fabulosa com que é contada esta estória da AvóDezanove e o segredo do Soviético mais uma vez tenho que deixar aqui os parabéns por mais esta verdadeira estória de um tempo do antigamente quando luanda se curvava perante a memória de agostinho neto. um tempo em que os lagostas azuis tomavam conta da cidade. um tempo em que existiam cubanos como o EspumaDoMar e o doutor truz truz... a não perder.

21 junho, 2009

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chico buarque
chico_buarque"Por que desceste ao meu porão sombrio? Com que direito me ensinaste a vida; Quando eu estava bem, morta de frio"

Lado Lunar - Rui Veloso (clica aqui)

Mostra-me o avesso da tua alma
Conhecê-lo e tudo o que eu preciso
Para poder gostar mais dessa luz falsa
Que ilumina as arcadas do teu sorriso

Não é por ela que te quero amar
Embora seja ela que me vai enganar
Se mostrares agora o teu lado lunar
Mesmo às escuras eu não vou reclamar

Não fora o mar

Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.

Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.

Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.

Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,

Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.

(Fernanda de Castro)

liberdade. cada um tem a que escolhe


o primeiro dia oficial de verão deixou-me dormir mais do que o costume. naturalmente o cansaço do dia de ontem para isso contribuiu. pois. a realidade é que acabei por chegar à praia depois das 9 e já nem me atrevi a ir para aquela que pretendia porque não haveria certamente um "buraquinho" para meter o meu boguinhas. seja como for por volta das 11 horas e com a maré a subir tanto como a temperatura decidi bater em retirada e diverte-me pensar como terão ficado depois de a maré estar cheia. é que já mal cabia um alfinete com a maré vazia... fui interrompida duas vezes enquanto escrevia por telefonemas do meu filho que que vive em milão e perdi-me e daqui para a frente seja o que deuje quiser. aqui pela terra as festas continuam aos fins de semana o que faz com que qualquer percurso que nos leve para dentro da vila nos faça ficar interminavelmente parados mesmo ao fim de semana. não sei quando isto vai acabar. acho bem que se promovam festas e concertos e o que der na gana de cada autarca mas não me convidem para me meter no meio de multidões. decididamente essa não é a minha praia. por isso e porque tenho saudades de um dia de praia tranquilo amanhã vou enganar-me no caminho e em vez de subir o rio vou descer. pois então. nada como um belo intervalo na rotina diária para dar outro sabor à vida. programar e planear escapadas não é exactamente o que costumo fazer. mas adoro ter esta liberdade de escolher furar a rotina.