31 julho, 2008

Joss Stone - Super duper love - (clica aqui)


Everytime I walk down the street with you
I'm as proud as a girl can be
Just to know that you are mine
And all that good loving belongs to me
In the presence of all my friends
You stood there holding my hand
And you promise me faithfully
That you will be my only man

Legenda


Façam ruínas
do que me afirmo,
espalhem ao vento as cinzas
do que sou:
na parcela mais remota do que fui
estou.

(Joaquim Namorado)

O pior é que nem sei por quem


Portugal esteve suspenso o dia inteiro a partir da altura em que foi anunciado que o PR falaria ao país as 20 horas. E afinal a maioria de nós ficou com a sensação de que a montanha pariu um rato, ou como ouvi dizer ao comentador Carlos Magno, o PR quis dizer "veto logo existo".
Creio que a maioria das pessoas não está realmente muito interessada neste assunto, embora todos compreendamos que é um assunto importante. Afinal envolve a diminuição de poderes do PR que afinal já são tão poucos, que, se começam a retirá-los qualquer dia nem se justifica que haja PR, não é? Mesmo para quem tem ligações aos Açores como eu que até tenho dois filhos lá nascidos e muitas estórias para contar o assunto parece muito pequenino. Na verdade o que se passa no país a nível económico e político é que me aflige. A mim e a milhares de outros. Não digo que o PR não se devia pronunciar sobre este assunto, o que digo é que devia também pronunciar-se sobre aqueles que afligem a maioria dos portugueses.
Depois de ouvir o PR fiquei com a sensação de que tinha sido ludibriada. Na verdade o assunto foi um segredo tão bem guardado que alimentou expectativas. E eu que devia estar aqui a escrever qualquer coisa que valesse a pena ler, estou só a queixar-me de me sentir enganada... e o pior é que nem sei por quem.

30 julho, 2008

Preta - Daniela Mercury & Seu Jorge (clica aqui)


Um abraço negro
Um sorriso negro
Traz felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade

Génesis


De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça ...- Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade... Ó transfusâo dos povos!
Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.
(Jorge de Sena)

E tu?


Tínhamos a cabeça e o coração cheios de ideais e uma vida inteira pela frente para os cumprir, para lutar por eles. Éramos capazes de tudo. Éramos capazes de mudar o mundo. E nessa altura o mundo era muito maior do que é hoje. Mas não nos poupávamos a esforços. Íriamos até ao fim do mundo e fim do mundo era a Índia, Katmandu e as vacas sagradas, lembras-te?
Corríamos Lisboa de mãos dadas, felizes. Parávamos ao mesmo tempo, onde quer que fosse para nos beijarmos. Escolhíamos espaços livres como os jardins da Gulbenkian e o castelo de S. Jorge... aqui tínhamos a sensação de ser donos do mundo. E também no alto de santo amaro junto à capela, lembras-te? Éramos jovens e não sabíamos. Não tínhamos idade. Aqui para nós, eu continuo a sentir exactamente o mesmo. Não tenho idade. Só que o mundo é hoje muito mais pequeno. Se eu não vou à Índia, a Índia vem aqui visitar-me quando lhe apetece. O mundo ficou de repente tão pequeno. E a miséria aumentou, a fome aumentou, os meninos de rua são cada vez mais, a pobreza globalizou-se e nós cruzámos os braços e percebemos que afinal não mudámos nada. Escrevemos, gritámos pelas ruas, corremos contra e a favor de tudo aquilo em que acreditámos mas não mudámos nada. Ainda acreditamos. Eu acredito. De ti não sei nada há tantos anos que não posso afirmar. Mas se leres isto, diz-me se ainda acreditas num futuro sem guerra, sem fome, sem miséria. Diz-me se ainda acreditas que os os filhos todos serão nossos, ainda que sejam filhos de outros corpos. Para sempre serão os nossos filhos. Eu ainda acredito. E tu?

29 julho, 2008

Fala - Ritchie (clica aqui)

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto

Desejos


Como eu queria ser um pássaro,
ave altaneira voando alto sobre a amplidão
dominando alturas sem fronteira
passageira de céus de lassidão.
Como eu queria a lua pura, como teto
por testemunha de um amor sem fim
dando às estrelas letras do alfabeto
ouvindo lendas com cheiro de alecrim.
Como eu queria ser a flor viçosa
que desabrocha na manhã, cedinho,
vestindo seda no seu corpo, airosa
mandando ao mundo recado de carinho.
Como eu queria sensação de paz ilimitada
um barco a navegar singrando os mares
um porto a me esperar na madrugada
e, alguém falando coisas, não vulgares.
Então, eu seria o pelicano emplumado
nadando livre, de uma, a outra margem
na firmeza de um gesto bem ousado
num desejo ardente de mensagem.
(Balila Palmeira)

Percebes as gaivotas?


Na Galiza fizeram-me muita companhia. As pessoas julgam que eu viajo só mas não é verdade. Há sempre uma ou várias companhias. Na Galiza foram elas. As gaivotas. Apareciam nas rias, por cimas dos camiões cheios de pescado, em cima das traineiras. Quase sempre silenciosas porque o alimento chegava para todas, ao virar de uma curva lá estavam as minhas amigas.
Mas agora já não. As gaivotas não podem já fazer-me companhia. É mais fácil uma estrela do mar fazer-me companhia. Agora as gaivotas são como aves que agoiram solidão. De cada vez que ouço uma arrepio-me. Gosto de me sentir acompanhada onde quer que esteja. Mas as gaivotas fazem com que eu sinta o peso da solidão de quem está acompanhado.
A questão é que as gaivotas de repente deixaram de me pertencer. Agora fazem parte de um outro universo, onde a solidão existe de verdade. Por muito que gritem estamos aqui, o seu mundo já não é o meu. É um mundo de silêncios povoado de gente que acha que vive a vida com intensidade. Por isso é que as gaivotas gritam. Têm medo do silêncio. Não sabem que o silêncio também é uma companhia. Uma das melhores companhias por acaso.
Por isso é que eu hoje virei as costas às gaivotas. Percebes?

28 julho, 2008

Caetano Veloso - Alegria, Alegria (clica aqui)

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...


A primeira gravura


Colher a figura
com doçura.
Nem sempre o cobre
pede violência. Mas
quando esta chega,
já na primeira gravura,
há que saber colhê-la com os olhos,
e domá-la com a mão.
E guardar a faísca no chão
da boca. Engolir sêco, e
talhar a chapa com gana
e fingida ternura.

(Adriana Abdenur)

Hoje já não me sinto só


É engraçado como de repente, ouvindo alguém que pensa como nós, nos podemos sentir menos sós. É muitas vezes uma batalha fazer com que as pessoas percebam que eu não acredito em deus mas acredito no homem. E acredito no homem que quer ser deus. Que inevitavelmente há-de perceber que deus só existe porque o homem o criou.
Hoje ouvindo o actor Wagner Moura, senti-me muito menos só. Finalmente alguém que pensa como eu, que acredita no homem e na ciência estava ali na minha frente a dizer o que eu penso. E por uma vez não tive que me dedicar a fazer alguém perceber o meu ponto de vista: aquilo em que realmente acredito; Deus é a Criação do Homem.
E por falar em actores, lembrei-me de um menino de 15/16 anos que conheci há pouco tempo no Redondo (Alentejo), por acaso. São as coisas da vida. Ruben é como se chama este menino que tem pelo teatro um fascínio imenso. Até há pouco tempo vivia ali próximo, no Alandroal e tinha aulas de teatro uma vez por semana, porque a Câmara do Alandroal tem a visão de contratar professores de artes. Quando as aulas de teatro começaram Ruben ficou encantado. Segundo os professores me contaram ele era o aluno jovem mais interessado. Tem um ar tímido, mesmo envergonhado este Ruben. Mas o pai resolveu mudar a residência para o Redondo e Ruben ficou sem as aulas de teatro, porque o pai não o leva aos sábados e não há transportes do Redondo para o Alandroal que lhe permitam continuar a frequentar as aulas de que mais gostava na vida. Ainda por cima vivendo em lugares onde a oferta de arte é muito escassa.
Hoje ouvindo Wagner que morou também numa "cidade" com apenas 3 ruas, pensei que talvez o Ruben tenha a mesma sorte e consiga sair para conquistar o seu espaço no mundo que o fascina: o teatro.

27 julho, 2008

In My Place - Coldplay (clica aqui)

Sing it please, please, please
Come back and sing to me
To me, me
Come on and sing it out, now, now
Come on and sing it out, to me, me
Come back and sing it
In my place, in my place
Were lines that I couldn't change
I was lost, oh yeah

Memórias de Março


Quando amanheço... leito manso e lento
Nesta manhã sob este sol silente
A cidade desperta calmamente
Ao meu olhar atônito e em tormento.

Uma canoa tangida pelo vento
Com as lembranças da última enchente
Em mim desliza e a cidade sente,
À margem, nos degraus, um leve alento.

Mas a tristeza morre neste instante
Quando, no Pontal, o Itacaiúnas
Vem, farto de canoas, desaguar...

E sou, portanto, este olhar brilhante
Cheio de lembranças, de botos, de buiúnas...
Que corre lento assim de encontro ao mar...

(Abilio Pacheco)

Prosa de um domingo sem estória.


Não preciso olhar o relógio. Quando começa a chegar mais gente com crianças pequenas, sei que está na hora de partir. Passa das 11 da manhã e eles começam a chegar, invadindo o areal sem preocupações de maior com o sol. Lambuzam-se as crianças com um pouco de creme e toca andar para a água. Não há chapéus, nem t-shirts e o guarda sol está lá para proteger as sandochas de presunto e os refrigerantes... bem talvez não seja bem assim, talvez haja sandes de outra coisa qualquer e até iogurtes. Afinal não estou já lá para ver. Mas imagino que quem é capaz de chegar à paria àquela hora com crianças pequenas é capaz de todos os disparates que imagino.
A criança tem sede mas não lhe dão água. E todos sabemos que a água é preferível a qualquer refrigerante, cheio de açúcar que só vai fazer com que a alimentação daquela criança seja ainda um pouco mais desequilibrada.
Abençoados os pais de hoje em dia que levam as suas crianças quando vão às compras e põem no carrinho tudo o que elas pedem sem se dignarem a ler para saberem mais ou menos o que estão a comprar. E digo mais ou menos porque o que os produtos indicam são muitas vezes uns nomes que ninguém sabe muito bem o que significam como "l-actasei" e que o produtor garante que dá imunidade contra todos os males. E a malta compra a bom preço a banha da cobra e sai feliz e depois ficam muito surpreendidos quando o pediatra diz que a criança está mal alimentada... como, se ela como tudo o que quer? Até está gordinha e tudo...
Gostaria de ver um pouco mais de bem senso por aqui e pelo resto do mundo. Sim. Porque não se pense que este é um problema nosso. Este é um problema mundial. Enquanto as crianças dos países ditos ricos se entopem com guloseimas as dos países pobres não têm sequer arroz para comer... talvez fosse bom começarmos todos a pensar um pouco mais no mundo que nos rodeia e fazer da palavra filantropia uma bandeira pela qual valha a pena combater.

26 julho, 2008

Baby Can I hold you - Tracy Chapman (clica aqui)

I love you
Is all that you can't say
Years gone by and still
Words don't come easily
Like I love you
I love you

But you can say baby
Baby can I hold you tonight
Maybe if I'd told you the right words
At the right time
You'd be mine

Últimos versos


Te deixei voar tão alto
Tão longe
Tão bela e tão livre
Que te tornastes o horizonte
Inalcançável

Hoje, sigo sem asas
Em busca de um limite
(Inexistente)

Te deixo
Te perco
Me esqueço
Pra sempre

Enfim, teu espírito voa livre
Por sobre os campos de sonhos
Que deixei
E que um dia semeei pra mim...

(A. Ramôa )

Saber brincar com a morte


Um Verão assim a meio tempo é como um Verão em part-time. É por isso que o Verão existe. Para ter dias que amanhecem assim nublados para que eu possa dormir tudo o que não dormia há muitos anos... que saudades eu tinha de dormir 10 horas de seguida. Por outro lado fico preocupada com este regresso ao passado. Tenho medo de estar doente sem saber, penso que se calhar era melhor dar ouvidos á pneumologista e consultar um médico de clínica geral, mas eu acredito tão pouco na medicina, eu acredito tão pouco no saber da medicina. Há muitos anos que aprecio os avanços na cirurgia mas no resto a minha fé perdeu-se completamente. Mandam-nos fazer exames, carradas de exames porque não sabem o que temos e depois há um ser iluminado que enquanto nos faz um exame se põe a fazer perguntas sobre todo o nosso historial médico. E quando lhes aparece pela frente uma pessoa que não sabe o que teve, nem o que tem, a bem dizer não está nada interessada em saber grande coisa, ficam amuados porque assim não podem fazer um bonito e mais verdadeiro relatório para que o colega leia e diga este tipo é mesmo bom!
Estou para aqui a dar corda aos dedos, ainda nem li o que ficou para trás mas sei que vai ficar como está. Ouvi a última aula gravada em vídeo por um professor de 47 anos com neoplasia do pâncreas. Uma daquelas que não perdoa. E contudo ele está bem disposto, apresenta a família e fala da mulher como se ela já estivesse viúva. Morreu ontem mais um homem que brincava com tudo. Até com a morte.

25 julho, 2008

House of The Rising Sun - Joan Baez (clica aqui)

There is a house in New Orleans
They call the rising sun
And it's been the ruin for many poor boys
And me, oh God, I'm one
I'm going back to New Orleans
My race is almost run
I'm going back to end my life
In the house of the rising sun

Escapulário


No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia

(Oswald de Andrade)

Obama, Chavez e António


Ele é o homem. O homem negro que vai ocupar o lugar na casa branca. Já não me restam quaisquer dúvidas. O homem resolveu visitar o oriente médio e a Europa e é acolhido como um ídolo. Junta multidões. Exala boa disposição e força. É bem humorado. É inteligente. É bonito. É ainda bastante jovem. As pessoas adoram-no. Em resumo o homem tem tudo o que os europeus querem de um presidente americano.
É claro que nunca se sabe o que está por trás de promessas feitas em campanha eleitoral. Todos sabemos que o que se diz em campanha não é válido após a tomada de posse. Mas quero acreditar, que pelo menos desta vez, a maior parte das promessas sejam tornadas realidade para que eu possa dizer aqui, o presidente dos USA é um homem brilhantemente negro.
É claro que estas minhas profecias são arriscadas. Mas se há por aí tantos analistas políticos a fazerem futurologia que não se realiza porque é que eu a quem ninguém paga para dizer o que me vem à cabeça, não hei-de dizer que acredito neste homem e acredito realmente que ele será o próximo presidente na casa branca... a menos que sofra um acidente, uma daquelas coisas que às vezes acontecem por lá e se fica eternamente sem saber, quem, como e porquê...
Também Hugo Chavez parece saber dar a volta por cima. Foi visitar o rei Juan Carlos à sua residência de férias em Maiorca, recebeu dele uma t-shirt com a célebre frase "porque não te calas" e aceitou-a com humor... é por isso que o povo gosta dele. Isto é que faz dos presidentes maus políticos mas homens a quem o povo ama por muito que enganem, por muito que metam a pata na poça... de resto o nosso PM também se dá muito bem com o índio que ainda não consegui saber se é um homem de cor ou um índio de verdade...
Por cá, António Lobo Antunes ganha o prémio Camões... tiveste sorte pá, de o receberes em vida. Que te faça bom proveito e que continues a viver para escrever a tua poesia em prosa que me delicia. Também tu és um homem brilhantemente branco. Parabéns António.

24 julho, 2008

Astronauta - Gabriel o Pensador


Essa vida de internauta me cansa
Astronauta, cê volta e me deixa dar uma volta na nave,
passa a chave que eu tô de mudança
Seja bem-vindo, faça o favor
E toma conta do meu computador
Porque eu tô de mala pronta, tô de partida
E a passagem é só de ida
Tô preparado pra decolagem, vou seguir viagem, vou me desconectar
Porque eu já tô de saco cheio e não quero receber nenhum e-mail com notícia dessa merda de lugar

Santo nome em vão


o ruim de ser povo
é avalizar um empréstimo novo
em Calcutá
sem nunca ter ido lá.
(Ulisses Tavares )

É aqui que eu vivo


Este é o meu país. Um país com muitas singularidades e terras igualmente singulares. Terras onde os lugares de estacionamento são pintados com metade do tamanho necessário, ou seja, pretende-se que os automóveis ocupem uma parte do passeio. Noutras há ruas íngremes e estreitas com dois sentidos onde há quem estacione dos dois lados da via o que faz com que seja impossível passar em qualquer dos sentidos. Há quem saia do carro, quem buzine, mas o remédio é mesmo fazer marcha atrás e procurar outro caminho.
No meu país há juízes que condenam pessoas a pagar indemnizações por danos morais a pais que não queriam aceitar como seus os filhos e de repente decidem que sim senhor afinal querem mesmo ser pais e a sua moral tem que ser reparada em euros...
No meu país é notícia o facto de Bin Laden ter ficado satisfeito e ter celebrado o 11 de Setembro... fantástico não é? nenhum de nós imaginaria que o homem ficasse tão contente, a não ser os media que pelos vistos achavam que o senhor tinha ficado mergulhado numa profunda tristeza que o levou a uma ainda maior depressão que por muito pouco não o levou ainda ao suicídio...
No meu país há um autarca que vai pagar os livros de estudo das crianças do ensino básico da sua Câmara. Se a medida é eleitoralista não me importa. No meu país há autarcas que fazem o que o governo devia fazer... um governo que obriga as pessoas a estudarem 12 anos mas não os ajuda a pagar nem um!
Este é o meu país. Que eu compreendo. E a que acho piada. No fim de contas em todos os outros países há coisas peculiares... só que é neste que eu vivo.

23 julho, 2008

Paciência - Lenine e Vanessa da Mata (clica aqui)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

A criança que pensa em fadas

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

(Alberto Caeiro)

Histórias que o escaravelho me contou


Há coisas que eu digo que sei que é difícil acreditar. Raramente me queixo do calor. Na verdade amo o Verão e dispenso o Inverno. Nem da roupa de Inverno gosto. Posso passar várias estações em comprar um peça de roupa. Não gosto do Inverno. É definitivo!
Mas o calor do interior às vezes pode fazer-me mal. Fez-me mal. Três dias de dor de cabeça que não houve comprimido que remediasse, duas noites sem dormir por causa do calor, uma torreira abrasadora: e ainda assim eu olhava em volta e as pessoas sorriam. Simpáticas as pessoas que me rodearam estes dias no Alentejo profundo. Se me dirigia a alguém pedindo alguma informação respondiam com sorrisos, houve até uma rapariga que ao lado do namorado lhe apertava o braço para que ele me desses a resposta pretendida com o ar mais tímido deste mundo. Mas ainda assim sorriu, quando agradeci e desejei bom dia.
E foi assim que me levantei bem cedo, tomei um duche frio e o pequeno almoço e me dirigi ao Redondo, vila do Baixo Alentejo que se encontra bastante bem cuidada e ruas desertas de gente, com as temperaturas a passarem os 40º ao fim do dia. Mas de manhã a estrada está concorrida e o calor ainda não sufoca. Vejo um burro e uma pequena carroça, perecem-me uma coisa de brincar. Apetece-me parar e fotografar. Impossível, não há onde parar o carro, a estrada está concorrida e eu tenho que chegar a tempo à Biblioteca Municipal do Redondo que é financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Bendito judeu que mesmo depois de morto sabes o que fazes!
Pois é: aguarda-me "Histórias que o escaravelho me contou". Dois actores decidem levar a cena texto de Manuel António Pina em teatro de sombras. Uma coisa muito bonita de se ver. São apenas 20 minutos mas os miúdos espojados em cima de colchões espalhados pelo chão estão "agarrados" ao palco. De pequenino é que se torce o pepino. Diz o povo e é verdade.
Acabada a peça há mais duas horas e meia de "oficina". Os miúdos aprendem a fazer marionetas que se mexem através de arames. E depois cada grupo faz a sua própria estória e representa. Duas delas foram realmente muito bem inventadas, estruturadas e contadas. Num canto, uma menina linda de olhos claros e cabelos loiros, recusa-se a entrar na brincadeira. Percebo-lhe a timidez. Num primeiro impulso quase lhe digo que vá, mas depois lembro-me de mim naquela idade e penso "eu era assim"... e fico onde estou.
Ao fim da tarde faço a estrada de regresso. Tenho saudades do mar. É a primeira coisa que procuro quando regresso a casa. E ele ali está, imenso como sempre... E eu, como a miúda olho de longe e espero que ele não me reconheça.

20 julho, 2008

War - Bob Marley (clica aqui)

Until the philosophy which hold one race
Superior and another inferior
is finally and permanently discredited and abandoned
Everywhere is war, me say war.
That until there are no longer first class
and second class citizens af any nation
Until the color of a man's skinis of no more significance
than the color of his eyes
Me say war.



Frente a frente


Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

(Eugénio de Andrade)

Tenho mais que fazer


Já sei. Sou política e socialmente incorrecta quando estou com acessos de mau feitio. Mas que querem? Passados 10 dias ainda não percebi o que levou àquele tiroteio na Quinta da Fonte entre pretos e ciganos. Não percebi e continuarei sem perceber porque agora parece que só se fala nos ciganos voltarem ou não a ocupar as suas casas no bairro. Dizem que não se sentem seguros, que os pretos são dez vezes mais que eles, que são "cidadões" com os mesmos direitos que todos (deveres é que me parece que são muito menos, mas enfim, se calhar sou eu mesmo só por causa do mau feitio), mas alguém explicar porque é que houve o tiroteio ainda não ouvi. Fala-se à boca pequena em negócios de droga. Os ciganos teriam como ajudantes alguns pretos e a coisa parece que não correu bem... foi o que ouvi, mas não sei se é verdade.
O que sei é que a política usada para a integração dos ciganos é um disparate completo. Alguém disse que ser cigano não é raça é profissão. De resto uma profissão que eu gostava de ter. Não o modo como agora a maior parte deles ganha a vida, traficando droga e armas, mas a vida de saltimbancos que fez deles uma lenda... isso sim é que são ciganos de verdade e não de profissão. Querem integrar um povo que é português há mais de 500 anos? Que está instalado por aqui há mais de 500 anos? Cá para mim a culpa é da ASAE que lhes andou a lixar os negócios de contrafacção de roupa, cd's e dvd's... Desintegre-se a ASAE e os ciganos integram-se de novo... a ver vamos.

Nota: vou estar ausente por uns dias, ainda não sei quantos, os que me der na bolha como é costume. Tenho mais que fazer que aturar os coitados dos ciganos e dos pretos.

19 julho, 2008

Tiro ao Álvaro - Adoniran Barbosa e Elis Regina (clica aqui)

de tanto levar frechada do teu olhar
meu peito até parece sabe o quê?
tábua de tiro ao álvaro
não tem mais onde furar

teu olhar mata mais do que bala de carabina
que veneno e estriquinina
que peixeira de baiano
teu olhar mata mais do que atropelamento de artomovel
mata mais que bala de revórver

Discurso


E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

(Cecília Meireles)

Coisas que já não fazem parte do nosso mundo.


A notícia chega dos States... Muitos de nós dirão, só podia ser. Na verdade muitas das coisas que acontecem parece só serem possíveis nos USA. Se calhar as coisas até existem noutros países mas como não são noticiadas é como se não existissem. A comunicação social é que faz com que as coisas se tornem reais.
Estou a falar das mulheres padre que já existem nos USA e das mais quatro que estão para serem ordenadas. A excomunhão (julgo que é assim que se diz, e não como ouvi a Judite de Sousa dizer excomungação...) não as intimida e nem assusta. De facto não se entende porque é que o Vaticano insiste em ter apenas homens como sacerdotes. Excomunga mulheres que querem servir um deus em que acreditam e limita-se a pedir desculpa pelos actos dos padres pedófilos. Elas são ameaçadas de excomunhão por quererem trabalhar em algo que acreditam e que sabem com certeza fazer. Os padres pedófilos, pois, diz o Papa que o envergonham e espera que sejam submetidos à justiça dos homens. Ainda não ouvi dizer que algum deles fosse excomungado por abusar sexualmente de crianças... Extraordinário este mundo em que vivemos. E ainda ousamos criticar outras religiões. Com que moral?
O esperável é que as mulheres sejam autorizadas a dizer a missa e a dar os sacramentos tal como fazem os homens. Não o permitir é admitir que a mulher é um ser inferior, coisa que há muito tempo demonstraram não ser verdade. Quanto mais depressa o Vaticano mudar de ideias em relação a isto, melhor... para ele e para as mulheres que querem exercer uma actividade em que acreditam, sem estarem submetidas a qualquer castigo inventado por homens que se julgam capazes de substituir um ser que eles próprios consideram acima de todos.

18 julho, 2008

Amado Vanessa da Mata (clica aqui)

Sinto absoluto o dom de existir,
não há solidão, nem pena
Nessa doação,
milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

Basta pensar em sentir


Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei-de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.

(Fernando Pessoa)

Happy birthday dear Madiba.


Um dos homens mais brilhantes do século XX completa hoje 90 primaveras (talvez devesse dizer cacimbos, uma vez que é a época do ano no seu país natal), mas a verdade é que um homem que aos 90 anos continua a apelar à boa vontade dos homens só pode ter menos de 20... logo faz 90 primaveras, das quais lhe roubaram quase 1/3 mantendo-o encarcerado durante 27 anos. E quando saiu não era um homem como se poderia esperar com desejo de vingança. Sempre apelou à paz, enquanto cidadão e enquanto presidente (o primeiro negro) do seu país.
Infelizmente não há por aí muitos madibas e por isso o país não mudou grande coisa. Os homens quando não têm que comer são capazes de tudo, menos de tentar arranjar soluções para os problemas. A maioria das pessoas tem a tendência de culpar terceiros do seu infortúnio. Nunca se perguntam o que é que eu fiz de errado, deixa cá ver, vou tentar consertar, virar a vida, remar contra a maré... não. Os homens quando se sentem acossados, roubam, mentem, matam... desejam vingar-se daqueles que eles consideram os culpados de todos os seus males.
Nelson é brilhante. Porque sempre foi um homem de paz, mesmo quando era acusado de terrorista por defender a ideia de um país multirracial, onde não fosse crime nascer negro. Onde as pessoas fossem livres de se amarem, independentemente da cor da pele. Onde reinasse a igualdade. Querido Nelson, acho que foi tudo muito bonito, continua a ser um encantamento ver-te e ouvir-te mas, no teu país, negros viram-se contra negros. Matam, perseguem, obrigam a fugir quem não nasceu na África do Sul.
É pena que tenhamos todos uma memória tão curta e que o esforço e sacrifício de um homem tão brilhante quanto tu não cheguem para endireitar o mundo e despertar consciências. Tu fizeste (continuas fazendo) a tua parte.
Happy birthday dear Madiba.

17 julho, 2008

Banana Pancakes - Jack Johnson (clica aqui)


You hardly even notice it
When I try to show you this
Song it’s meant to keep you
from doing what you’re supposed to
like waking up too early
Maybe we could sleep
I’ll make you banana pancakes
Pretend like it’s the weekend now

Motivo da rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

(Cecília Meireles)

Como é que eu fico?

O Algarve passou a ser Allgarve para 5% dos britânicos pioneiros residentes naquele pedacinho do nosso país. Isto é, passou a ser demasiado caro e obrigou-os a voltar ao seu país, abdicando do sol e temperaturas mais agradáveis o ano inteiro.
Com efeito a notícia é que é mais caro viver no Algarve que em Londres. Há até britânicos que vão a Londres com malas vazias que trazem carregadas de produtos mais baratos.
Outro dado curioso é o que se refere aos britânicos de classe alta que podem ainda pagar a vida no Allgarve. O carro é um Mercedes mas fazem compras no Lidl que segundo a reportagem é o supermercado que mais vende na região... sintomático, parece-me.
Com efeito da última vez que estive em Londres acabei por fazer umas comprinhas no Harrod's pela primeira vez, porque os produtos de marca que geralmente compro (são poucos, mas pronto, são aqueles de que a minha alma burguesa não abdica) eram mais baratos que em Portugal. A saber perfumes e cosmética. E deu-me um gozo saber que qualquer pelintra português já pode fazer compras no famoso Harrod's. Antigamente não ia mais longe que o Selfriedges mas agora já podemos ajudar a economia árabe em Londres e apreciar o mau gosto que representa a homenagem a Diana e Doddi naquele armazém... gostos! Muito duvidosos pelo menos para mim. E já agora como fiz uma foto dessa espécie de altar ali erguido em plena loja vou procurar para ilustrar esta página...
Seja como for. O abandono do Algarve pelos britânicos preocupa-me... é que eles fazem parte do meu ganha pão... e se forem todos embora como é que eu fico?

16 julho, 2008

Escândalo - Caetano Veloso (clica aqui)



Oh doce irmã o que é que você quer mais?
Eu já arranhei minha garganta toda atrás de
Alguma paz
Agora nada de machado e sândalo
Você que traz o escândalo, irmã luz
Eu marquei demais, tô sabendo
Aprontei demais, só vendo
Mas agora faz um frio aqui...

Acordar tarde


tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou

no dia seguinte
procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia

(Al Berto)

Se é preciso corrijo.


Um dia destes dei comigo a pensar no facto de ser tão pouco sentimental. Bem não é isso que quero dizer. Como Fernando Pessoa eu também tenho muito sentimento, quero dizer emoções. A conclusão a que cheguei fazendo um balanço da minha vida amorosa foi que nunca me apaixonei por ninguém. A pessoa que mais me conheceu foi aquela que mais me amou. E o seu amor era tão grande que eu me apaixonei por esse amor. Aqui há uns tempos pensei que tinha finalmente sentido paixão por alguém mas enganei-me. Acho que não existe homem que faça com que me apaixone por si mesmo. Teria que ter tantas qualidades (ou defeitos que eu considero qualidades porque me são imprescindíveis), que esse homem ou não existe ou a existir é tão raro que dificilmente poderei cruzar-me com ele e reconhecê-lo.
Há por aí uma coisa qualquer que diz "o que gosto mais em ti é que gostas de mim". Será que é normal este meu comportamento? Será que há muita gente assim como eu? Gente que não é capaz de se apaixonar por alguém mesmo que esse alguém não lhe devote um sentimento assim tão forte?
Tenho pena de ser assim mas sou como sou e ninguém pode alterar isso. O que fez de mim o que sou? Se calhar algumas desilusões da adolescência. Pelo menos isso aprendi: fugir das desilusões a sete pés. Assim que me cheira a esturro ponho-me a milhas é o que é. E afinal aquilo que eu pensava que era paixão pelo trabalho, pelas coisas de que gosto de fazer, se calhar é apenas mais uma forma da minha teimosia.
Ah, se não fosse ter os meus amigos do peito o que me restaria para alem da família, que me dou ao trabalho de escolher pois então. É por isso que digo que quem como eu é capaz de escolher a família dificilmente deixará que lhe entre vida adentro quem não interessa. E se por acaso me engano, mais tarde corrijo...

15 julho, 2008

Olá - Jorge Palma - (clica aqui)

conheço a tua cara
mas não sei o teu nome
escrevo já aqui
não sei o quê arroba ponto com
eu vou-te reencontrar
noutro bar de estação
ou talvez quando perder mais um avião
o barco vai de saida
tu estás tão bronzeada
é tão bom ver-te assim
ardendo tão queimada

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

(Cecília Meireles)

Onde estás?



Se eu soubesse onde estás, iria ter contigo... é que tens-me feito tanta falta. A mãe passa a vida a falar em ti, de ti, esqueceu todos os momentos maus e só ficaram os bons. Absolveu-te completamente de todas aquelas pequenas falhas que todos cometemos e que ela insistia em lembrar a vida inteira, como se devêssemos ser castigados o resto da vida por uma má decisão. Tu sabes como ela é. Mas agora esqueceu tudo e só ficou uma vida de felicidade sem par. Quando quer exercer o seu direito a envenenar a vida de alguém escolhe outros alvos. Sempre os mesmo sabes como é.
Por isso se eu soubesse onde estás iria ter contigo. Para podermos conversar, para que me digas (talvez agora já saibas), o que hei-de fazer a todo o frenesim em que ela entra por vezes. E a maior parte do tempo está virada para dentro, a conversar consigo mesma, como se o mundo à roda dela não existisse. Em frente à televisão tanto faz estar como não ligada. Fala consigo mesma ou com o relógio da sala. Ninguém a convence a ir a um especialista. Continua a auto medicar-se, a sair de casa quando lhe dá na bolha... agora está mais sossegada. Acho que tem dores, passa o tempo quase todo deitada... mas se tu estivesses cá eu sei que havias de a convencer a tratar-se.
E era isso que eu queria que tu me dissesses. Quais os argumentos que devo usar. Se não me queres dizer onde estás, vem como no outro dia, entra no meu sonho, torna-te real de modo a que eu sinta o teu calor e o teu abraço, de modo a que eu saiba que estás mesmo ali e diz-me o que devo fazer para poder lidar com esta situação.
Fazes-me sempre tanta falta, pai. Onde estás?

14 julho, 2008

Sei-te de cor - Paulo Gonzo (clica aqui)


Sei de cor
cada traço
do teu rosto
do teu olhar.
Cada sombra
da tua voz.
E cada silêncio
cada gesto que tu faças
Meu amor sei-te de cor

Eu amo tudo o que foi


Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

(Fernando Pessoa)

Durante a vida, viva.


Tenho 50 anos e gosto de os ter. Cheguei aqui e posso chegar mais longe. Gosto de olhar no espelho as marcas do tempo. Gosto de ver que estou bastante marcada. Quero acreditar que cada marca é um pedaço de vida que vivi. E acredito. E nem me passa pela cabeça acabar com essas marcas. Elas fazem parte de mim. Não estou a dizer que não me cuido. Cuido quanto baste. Limpo a pele, hidrato, etc., etc. Agora essas cirurgias que andam por aí a modificar bocas, narizes, pescoços, olhos... que deixam as mulheres sem alma... isso não. Cada dia há-de imprimir em mim a sua marca e quero morrer bem velhinha cheia de marcas mas sentindo-me como me sinto aos 50: como se não tivesse idade.
É verdade. Os sinais que o meu rosto e o meu corpo emitem para mim e para os outros não correspondem ao que vai dentro de mim. São marcas visíveis de horas de alegria e de aflição. Isso é viver e é isso que eu quero continuar a fazer. Quero continuar a trabalhar para poder dar valor às férias, ao tempo livre, quero continuar a ter a minha família ainda que ela esteja espalhada pelo mundo, os meus amigos também cada um em seu canto... mas que importa se no fim estão mesmo dentro do meu coração, dos meus pensamentos, das minhas recordações?
Quero ser quem sou. Ouvi por aí dizer que a vida começa aos 50. Não acho. A vida começa todos os dias desde que nascemos. É preciso vivê-la. Todos os dias. Aproveitando cada momento de felicidade e tranquilidade que ela nos dá e pensando que os desgostos, as perdas, o sofrimento ajudam-nos a ser cada vez mais fortes.
Como disse Terence Williams "durante a vida, viva."

13 julho, 2008

Paradeiro - Arnaldo Antunes e Marisa Monte (clica aqui)

Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?

Tenho tanto sentimento


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
(Fernando Pessoa)