26 setembro, 2007

Oxalá - Madredeus (clica aqui)

Oxalá, eu não ande sem cuidado,
Oxalá, eu não passe um mau bocado;
Oxalá, eu não faça tudo à pressa,
Oxalá o meu futuro aconteça.
Oxalá, que a vida me corra bem, oxalá.
Oxalá, que a tua vida também.

Conselho

Sê paciente; espera
que a palavra amdureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça

(Eugénio de Andrade)

Como hoje.

Não sigo o apelo mais vezes porque não posso. Estou convencida que tenho sangue cigano, ou de qualquer outro povo nómada. Estar sossegada não é definitivamente o meu forte. Gosto de palmilhar e é por isso que vou aparecer de novo por aqui quando puder, se puder, enquanto andar por aí, sonhando uma vida que não tenho, que ninguém consegue ter tudo o que quer portanto mais vale fazer como eu e pensar que sou feliz, porque tenho saúde, trabalho, família e amigos e ainda por cima gosto do que faço se bem que gostasse mais de andar de terra em terra como os antigos caixeiros viajantes... já não existem pois não?
Quando eu era miúda a minha avó tinha uma loja de retrosaria e mais uma coisas como sapatos, tinha até uma "apanhadeira"... em Alfama. E quando eu vinha de férias ficava encantada, sentada num banquinho a ver as freguesas que entravam para comprar e anotar o que deviam no enorme livro preto que a minha avó mantinha religiosamente guardado por baixo do balcão. No fim do mês as pessoas passavam para pagar e abriam novo "crédito"
Vendo bem hoje não é diferente. O crédito é oferecido de bandeja, invade as caixas de correio (tradicionais e electrónicas), ocupa-nos o telemóvel e o telefone, enche a caixa de sms de ambos...
Mas do que eu gostava mais naquela loja, era quando entravam os caixeiros viajantes com as suas malas que tinham de tudo um pouco, para que a minha avó encomendasse o que queria para vender às freguesas, a crédito quase sempre... como hoje.

25 setembro, 2007

Lisboa que Amanhece - Sergio Godinho (clica aqui)

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

Caem os sonhos


Caem os sonhos um a um
e o sangue estremece.
Caem, e ficam no chão
de quem os morde e os esquece.
Farto de seiva, o dia amadurece
(Eugénio de Andrade)

Bem visto José!

Os funcionários públicos em Portugal estão acostumados a pagar as favas. Há muitos anos que é assim, não foi o José que inventou o sistema. Aproveitou como aproveitou outros disparates, porque lhe convém ter um bode expiatório (ou vários) para justificar listas de disponíveis e outras coisas simpáticas que vêm acontecendo na nossa administração pública.
Contratar objectivos com os trabalhadores da administração pública é apenas uma das enormidades deste governo. E porque a maioria dos funcionários não passou ainda por isto e eu já vou para o terceiro ano deste novo sistema, quero alertar aqui os incautos e desprevenidos para que não aceitem contratar objectivos que não sirvam a "coisa pública" em primeiro lugar, porque é para isso que lhes pagam e as suas capacidades para não se tramarem depois... é que este ano vão impor-vos 70 ou 80% de algo que para o ano será 90 ou 95%... é uma montanha russa tão mal elaborada que ao fim do terceiro ano, já ninguém sabe muito bem que objectivos traçar...
Para ilustrar o ridículo destes objectivos vou contar-vos o que se passa por exemplo com os objectivos de um serviço informativo (cujo objectivo como o próprio nome indica é informar). Pois bem o objectivo é "despachar" os utentes o mais rapidamente possível, não importando se quem procurou aquele serviço sai de lá devidamente informado ou pelo contrário com mais dúvidas ainda do que quando entrou. O cerco aos funcionários daquele serviço é apertadíssimo. Não posso explicar de que forma mas são cronometrados ao segundo e chega-se ao ponto do responsável máximo daquele serviço, interromper funcionária e utente para dizer que o senhor já ali está há mais de 20 minutos e que assim não pode ser...
Como se vê estes objectivos são muito úteis. Porque o utente que saiu (foi corrido mais propriamente dali) daquela maneira vai dar razão ao José e achar que a funcionária não o elucidou convenientemente... portanto se ela for para o desemprego é menos uma parasita no sistema...
Bem visto, José!

24 setembro, 2007

Bad Day - Daniel Powter (clica aqui)

Sometimes the system goes on the blink
And the whole thing turns out wrong
You might not make it back and you know
That you could be well oh that strong
And I'm not wrong

So where is the passion when you need it the most
Oh you and I
You kick up the leaves and the magic is lost

A invenção do amor


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura
A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos lêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação

Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas...
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz

Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua

(Daniel Filipe)

O verdadeiro Mister!

Hoje que o assunto já não abriu os telejornais falo eu. Não que não me apetecesse ter falado antes, mas como diria um açoriano com quem trabalhei, primeiro a obrigação, depois a devoção. E era minha obrigação abrir este espaço a quem devo algumas gentilezas. Portanto vamos agora á devoção.
A minha devoção pelo number one, o special one o de todos conhecido José Mourinho. Julgo que o que fez as aberturas dos telejornais foi sobretudo o facto do senhor (porque ele é mesmo um senhor!) ter engordado a sua conta bancária assim, mais ou menos de um dia para o outro e tendo ainda por cima a sorte de poder tirar férias pelo tempo que quiser...
Ando há anos a defender este homem. Porque tenho por ele uma verdadeira devoção. Por um homem como ele, até me baptizava e sacramentava um casamento, juro... só que não deve haver por aí outro como ele, nem sequer uma cópia mais ou menos autenticada.
Senão vejamos. Quem é que as minhas amigas conhecem por aí do género masculino, que seja inteligente, trabalhador, confiante, honesto e ainda por cima charmoso e lindíssimo? São muitas qualidades num homem só convenhamos... eu sei. Mas ele tem-nas. E é por isso que pode ser vaidoso e arrogante. Porque PODE! Se bem que eu nunca o tenha achado arrogante. Nem um pouco. Achei-o sempre muito imperativo e sempre pensei que essa qualidade lhe era indispensável para conseguir tubo o que conseguiu! Vaidoso é verdade que é. E daí? O homem tem todas as qualidades que já enumerei, ainda por cima fala da família (mulher e filhos com uma amor de fazer inveja a qualquer uma), conhece-se a si mesmo... só se fosse tonto é que não era vaidoso! Detesto a humildadezinha que pretendiam que ele tivesse. Tal como António Lobo Antunes quando diz "eu sou um génio" e fica toada a gente muito lixada com ele... não percebo porquê: o homem é genial. Sé se fosse uma besta é que não se conhecia ou se fosse um mentiroso viria dizer eu não valho nada.
Grande José Mourinho! Eu não gosto nem percebo nada de futebol, mas há uns fulanos de quem eu gosto mesmo. MUITO. A sério. Este é um desses homens.

23 setembro, 2007

Encontros e Despedidas - Maria Rita (clica aqui)

E assim chegar e partir
são só dois lados
da mesma viagem
O trem que chega
é o mesmo trem da partida
A hora do encontro
é também despedida
A plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar
é a vida desse meu lugar
é a vida...

Inicial

O dia não é hora por hora.
É dor por dor, o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
E só
seu sino
está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia
do mar, e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.

(Pablo Neruda)

Honni soit qui mal y pense

Conheci a Joana ainda andava no colégio militar. Foi num fim de semana num bailarico. Sempre fui bom dançarino e a Joana acompanhava-me muito bem. Eu gostava de dançar com ela fitando aqueles olhos azuis. E assim iamo-nos vendo aos fins de semana. Ela era um pouco mais velha que eu, mas não parecia. Vinha de uma família bem humilde e trabalhava como vendedora numa loja para ajudar o orçamento lá de casa.
É claro que quando percebeu que eu era um bom partido arranjou maneira de fiar grávida e é claro que o meu pai confrontado com o facto pelo pai dela, me obrigou a casar. Naquela altura era assim e o meu pai sempre teve aquelas manias das honras e etc. etc. Não é que eu não gostasse da Joana mas não me sentia preparado para casar nem com ela nem com nenhuma outra mulher.
Porque o defeito que todos me apontam de ser "mulherengo" para mim é a minha maior qualidade. Eu adoro as mulheres e gosto de as fazer felizes. E faço. Então que mal há nisso? Um homem tem que cumprir aquilo para que está destinado e a minha missão nesta vida foi essa e cumpri-a o melhor que pude. Não acho justo que a Joana venha fazer de mim um monstro vulgar que ela sabe muito bem que não sou.
Além disso sempre trabalhei. Embora ela pense que o que eu fazia não era trabalho, não é verdade. Fiz de tudo um pouco nesta vida e até conseguia relatar para a rádio jogos de futebol, enquanto estava na cama com uma das minhas amantes. E dava sempre certo.
Se não dava dinheiro em casa sempre é porque tinha muitos encargos. Toda a gente sabe o que custa ter uma mulher (agora bem sei os tempos são outros, mas enfim naquela altura era duro), quanto mais duas ou três de cada vez!
Acabei por voltar a casar com uma rapariga da idade do meu filho mais velho, que não era nada agradável mas que tinha uma família de dinheiro e que me tem sustentado. Tive mais um filho com ela e pouco depois outro, com outra da idade dela... os meus netos são mais velhos que os meus filhos mais novos... toda a gente acha graça, menos a Joana claro, que não me perdoa o facto de eu ter conseguido sempre escapar a pagar a pensão de alimentos dos nossos filhos... em contrapartida dou-me bem com todos eles e se não me visitam mais é só porque não gostam da gorda com quem estou casado... desculpem lá, mas isto foi praga da Joana: é que a minha mulher é realmente muito mais nova que eu mas pesa 140kg!
E aqui ficou a estória completa e verdadeira. A Joana há-de acabar sozinha a remoer aquilo que ela acha que são as minhas maldades... E eu... eu hei-de morrer a fazer as mulheres que vou conhecendo felizes.
Ah!, e antes que me esqueça Maria Eduarda, havemos de sair uma noite destas para eu te agradecer o espaço e tempo que me deste, "comme il faut, ma chérie".

22 setembro, 2007

With Or Without You - U2 (clica aqui)

My hands are tied
My body bruised,
she’s got me with
Nothing left to win
And nothing else to lose

Poema para o meu amor doente


Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti com as mãos vazias

(Eugénio de Andrade)

Agora falo eu que fui casado com a Joana.

Chamo-me Vítor e sou de uma família do exército. O meu pai era coronel e nem os filhos nem os netos brincaram nunca com ele. Levava a disciplina para casa. Eu fui educado no colégio militar, onde aprendi a ser ordeiro e disciplinado e respeitador da moral e dos bons costumes. E cumpri tudo isso à risca enquanto não acabei o colégio. Depois, bem, depois foi o que se viu.
Éramos dois irmãos, a nossa mãe morreu muito nova e eu, como já disse passei a infância e adolescência internado naquele maldito colégio, a aprender a mexer em armas mas também a fazer a cama e a ter tudo arrumado. Até ao dia em que deixei o colégio como mais tarde verão.
O meu irmão é homossexual mas casou com uma mulher famosa de quem tem um filho. Depois ela apanhou-o com um gajo, pediu o divórcio e ficou tão traumatizada que só voltou a casar 40 anos depois, com uma rapazinho mais novo que ela 30. Achei muito bem.
Não é que eu não goste do meu irmão, que é assim um tipo todo muito bem educado tal como eu, mas com mais floreados, vocês sabem como é. Quem se dá muito bem com ele é a dona desta casa que me deu espaço hoje para poder contar as coisas como elas são. Que isto de começar estórias pelo meio como fez a minha Joana não se faz, que depois até parece que somos piores do que somos... não que eu seja um santo, isso não, mas também não quero que as pessoas fiquem pensando que eu nunca fiz nada na vida a não ser fazer filhos à minha Joana enquanto me entretinha com outras mulheres. Isso é que eu não quero. Por isso, amanhã vou continuar a contar a minha estória. Isto hoje, foi só para vos pôr a par do que foi a minha infância e juventude, para que percebam melhor porque é que a minha Joana tem tantas queixas de mim. Logo eu que sempre gostei dela...

21 setembro, 2007

O Centro Comercial Fechou - Jorge Palma (clica aqui)

O centro comercial fechou
a Maria vai viver a vida mais longe
longe das ilusões
em cima das situações perigosas

O Tóino não morreu no mar
acabou de adquirir um castelo na Escócia (enfim)
não é bem na Escócia
é numa cave sombria em Gaia



Porque é que este sonho absurdo



Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosase chamem-lhe vida.
(José Gomes Ferreira)

Uma santa é o que é!

Eu percebo que o senhor Bartolomeu esteja farto de me ouvir mas é que a D. Eduarda é realmente uma pessoa com muita paciência que nunca se zanga comigo. É o que me tem valido é a paciência e os ouvidos dela. Sempre pronta a dar-me aqui um espaço para eu falar de mim, para desabafar e para que pessoas como a D. Lenor e o senhor Bartolomeu digam o que lhes vem à cabeça sem fazerem grande caso da desgraça em que se tornou a minha vida.
Há um senhor que já se prontificou para escrever a minha vida em verso, um senhor não sei quê Palma que parece que gosta como a D. Eduarda de ouvir as pessoas mais infelizes como eu. Desculpe lá o senhor Bartolomeu, mas realmente se não fossem as pessoas como estas para nos darem um pouco de atenção a nossa vida seria ainda mais triste...
Mas é que hoje eu não vou maçar os senhores com mais estórias. É só para os prevenir que aquele homem que foi meu me disse que vinha aqui contar a estória como ela é de verdade. E como eu sei muito bem a lábia que ele tem, tenho medo que a D. Eduarda com a mania que ela tem das democracias o deixe aqui contar as mentiras do costume com que costuma enganar as pessoas, sobretudo as mulheres...
E aqui só para o sossegar senhor Bartolomeu, a gaja que me levou o marido, deixou o marido dela e o bebé... o senhor é um pouco desatento àquilo que eu digo, e eu não quero que se ponha a inventar, a pôr na minha boca coisas que eu não disse. O que o senhor não sabe, nem devia ficar a saber por ter esse mau feitio assim, é que ela também deixou o que foi meu marido... uma desmiolada é o que ela deve ser... e já agora senhor Bartolomeu eu nunca disse que ela tinha 20 anos pois não? Eu só disse que ela tinha metade da idade do meu marido... mas não disse que idade tem ele... nem vou dizer. Ele que conte se quiser. Deve ser a única verdade a sair daquela boca se a D. Eduarda o deixar vir para aqui contar coisas.
Parece que o senhor está contra os bons costumes e a moral... sim. Isso é o que parece. E a mim só me admira que a D. Eduarda o deixe falar assim desse modo aqui em casa dela. É só porque ela é mesmo uma santa é o que é!

20 setembro, 2007

Vazulina - Lura (clica aqui)

Zoi manxi sedu ku n`ganha na mon
Ta grabata na meiu di manduxu
Si ca staba ninhum tistonzinhu
Pe bistiba bazofu
Pe po rostu pa Praia
Djobi rapariguinha

Soneto de amor


Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
(José Régio)

Peço apenas um minuto da vossa atenção.

Peço desculpa, senhores. Peço muita desculpa por pedir mais uma vez emprestada a vossa atenção. É que eu preciso mesmo de desabafar e eu sei que por aqui há umas pessoas que se interessam pelas mulheres como eu e se calhar também pelos homens como o meu marido... enfim quase ex-marido, mas pronto, enquanto há vida há esperança é o que se costuma dizer nestes casos e eu não sou uma pessoa letrada, enfim só quero mesmo um minuto da vossa atenção.
É que o meu marido pediu o divórcio. Não, não foi por causa da Amélia. Essa deixou de o interessar logo que eu descobri o segredo... porque afinal ele percebeu que eu os tinha visto. Então ele mesmo arranjou maneira de pôr a Amélia fora de casa. Bem feita para ela saber como elas nos mordem! Julgava a sonsa que ia ficar com ele, pois tramou-se! Bem feita!.
O pior é que desta vez eu também estou tramada. É que o meu marido apaixonou-se por uma gaiata com metade da idade dele, por sinal também ela casada e por sinal também ela disposta a abandonar o marido da idade dela e o bebé que tem com menos de 1 ano. Isto só prova o que eu já vos disse: o meu marido é um sedutor, não há nada a fazer. Eu nem posso culpar as mulheres porque eu mesma sei que ele nos dá a volta à cabeça, que é que as desgraçadas hão-de fazer...
Só que desta vez esta miúda parece que o "agarrou" mesmo. É que o meu marido nunca tinha falado em divórcio apesar de eu saber que nunca fui a única mulher da sua vida em momento nenhum... e agora senhores, o que faço? Como vou viver sem o homem da minha vida? Como vou viver sem me desesperar todas as noites olhando para o relógio, esperando muitas vezes uma chegada que não acontece nunca... quando volto do trabalho ele está a dormir na nossa cama e eu dou-lhe um beijo de leve e deixo-o dormir, coitado que há-de estar cansado e vou-me à lida da casa e a ajudar os miúdos...
Será que a miúda agora o vai deixar também dormir como eu ou desta vez ele não tem vontade de seduzir mais mulher nenhuma?
Desculpem senhores o tempo que vos tomei e muito agradecida pela atenção dispensada. Sobretudo ao senhor Bartolomeu e à senhora Lenor, que tentaram ajudar cada um à sua maneira... Muito agradecida aos dois.

19 setembro, 2007

Beira Mar - Maria Bethânia (clica aqui)

Dentro da dor a canção
Dentro do guerreiro flor
Dama de espada na mão
Dentro de mim tem você

Tenho o nome de uma flor

Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei

(Eugénio de Andrade)

O malandro do meu marido.

Estou casada há 20 anos com o mesmo homem. O meu marido é um sedutor. É o que sabe fazer melhor: seduzir. Tão bem que ao fim de 20 anos, quatro filhos e dificuldades tremendas para sustentar a casa, continuo casada e a sustentar toda a situação.
Hoje vim aqui porque estou muito zangada mas não sou capaz de lhe dizer. Vim aqui contar o que ele me fez. Venho desabafar. Se quiserem fazer o favor de me darem um minuto do vosso tempo...
Tenho uma colega que se tornou minha amiga. Por razões que não vêm ao caso ficou sem casa. Falei com o meu marido para que ele permitisse que ela ficasse o tempo de que necessitasse em nossa casa até resolver a situação. Ele passou-me a mão pelo cabelo, deu-me um beijo na testa e disse, claro querida, tu e o teu bom coração, faz como achares melhor.
Hoje encontrei-os na cama. Na minha cama. O meu marido e a minha melhor amiga... Saí sem que dessem por mim. Fui fazer perguntas a outras colegas e fiquei a saber que quando veio cá para casa a Amélia (é assim que ela se chama) já era amante do meu marido. Fui levada a oferecer-lhe a minha casa e a possibilidade de estarem juntos sem dificuldade.
Contei aqui só para desabafar. Não vou dizer nada ao meu marido. Vou continuar a sustentar a casa e os filhos. Arranjarei uma maneira de pôr a Amélia fora de minha casa sem que ele vá com ela? É isso que agora me preocupa. Não consigo olhar para ela mas tenho medo que ele me abandone. Tenho medo que ele parta com ela. Como poderei continuar a viver sem as palavras bonitas que ele me diz todos os dias? Não sei viver sem o ouvir mentir. Gosto das mentiras dele. Não suportarei se ele ficar em silêncio, se desaparecer se for com ela.
Vim aqui só para desabafar... e tentar não perder o malandro do meu marido.

18 setembro, 2007

Unforgettable -Nat & Natalie Cole (clica aqui)

And forever more, that's how you'll stay
That's why, darling, it's incredible
That someone so unforgettable
Thinks that I am unforgettable too

O silêncio


o silêncio me sorve
em longos e largos
goles, sobe
pela boca, absorve
securas, vazios
estios. sabe
que a lida não é dura
nem leve: ela é breve
e se atreve.


(Demétrio Azevedo Soster)

Só porque ainda não sei...

Acordo de madrugada e o peso da solidão sufoca-me. Fazem-me falta as minhas crianças. Como ocupar o tempo que me deixam livre, agora que estão de férias com o pai? Que faço destas noites em que entro no quarto onde deviam estar a dormir e não os tenho? Como consigo adormecer sem antes lhes contar a estória do dia e ouvir a estória inventada pelo mais novo todos os dias. Que falta me faz a tua estória filho, que me faz rir quase até às lágrimas! Como faço para ocupar todo este vazio que sinto?
Ainda não sei que daqui a uns anos esta sensação será de alívio, de dever cumprido, de saudades de os ter junto de mim mas também de ter a liberdade do tempo todo do mundo só para mim. Agora não sei ainda que um dia me sentirei sufocada por esta agitação que agora me falta...
Agora choro porque me sinto só sem as minhas crianças. Agora passo o resto da noite a passar a ferro para ter as mãos ocupadas e o espírito liberto para pensar em como estarão. Se estarão bem, se gostam de estar com o pai que mal conhecem, com a família do pai, com o outro irmão... Sei que não terei coragem de telefonar para saber se estão bem. Não é por medo mas por orgulho, para não dar o braço a torcer, para que ninguém perceba que me fazem falta, que por dentro estou em cacos... para que todos continuem a pensar que sou realmente forte, que a imagem que têm de mim é absolutamente verdadeira, que nunca me vou abaixo, que não há nada que me derrube.
Agora choro com saudades dos meus filhos. De manhã irei trabalhar com um sorriso na cara, para que todos saibam que as saudades não me atingem, que os meus filhos não me fazem falta que passei uma noite descansada... Ainda não sei que um dia quando eles saírem de casa será assim. Ainda não sei que um dia desejarei ficar sozinha comigo mesma. Ainda não sei que há outras formas de viver a vida, de a preencher, um lugar onde as minhas crianças serão homens e continuarão ocupando os seus lugares de crianças dentro do meu coração.
Hoje choro. Só porque ainda não sei...

17 setembro, 2007

Under african skies - Paul Simon & Miriam Makeba (clica aqui)

This is the story of how we begin to remember
This is the powerful pulsing of love in the vein
After the dream of falling and calling your name out
These are the roots of rhythm
And the roots of rhythm remain

Metáfora


Este poema, dedico-o à minha grande amiga Maria Eduarda, autora do blog andondehaespaco.blogspot.com, onde ela magistralmente vai desfiando aquilo que a alma lhe sente. Como vês Maria, o prometido não foi de vidro, se foi, era do bom, da Marinha Grande, feito ainda pelos arcaicos processos artesanais. "Nada melhor que o belíssimo produto nacional";))))

Hoje vi-te!
Como rio que se solta da barragem que lhe prende as águas.
E pegaste-me, envolvendo-me com toda a força do teu querer
Levaste-me leito abaixo, entre margens de desejo.
Despenhámo-nos em cascatas palpitantes, seguindo
Ora rápido, ora lentos, ora calmo, ora agitados,
Saltando de fraga em fraga, galgando por cima de penedos.
Buscando desenfreadamente a plácida foz, onde
Um mar imenso serenamente nos acolhe
E nos guarda, repousados, em seus segredos.
Quando sentires medo, chama por mim.


(Bartolomeu)
P.S.: a fotografia é minha e dedico-a aqui ao meu navegador Bartolomeu... é a minha maneira de agradecer o seu carinho e a disponibilidade para os meus piores momentos.
Beijo.

Este quando

Bartolomeu é um navegador dos tempos de hoje, dos tempos do quando, um internauta mais exactamente. Diz a vida em verso, às vezes faz poesia, outras faz graça... mas conta a vida em verso, como é tradição em Portugal. Afinal Camões não terá sido o primeiro nem o único... e não me venham cá chatear a dizer que estou desrespeitando quem quer que seja. Como diria a senhora M. cada macaco no seu galho e eu hoje estou aqui só para falar de e para o Bartolomeu.
O mesmo que me descobriu por aqui há uns meses e que eu primeiro pensei que pudesse ser um professor de filosofia que tive.
Dele não sei nada. A não ser o que já disse. Bem, sei mais umas coisinhas pequeninas, como onde mora e gostos pessoais e que acha que somos muito parecidos. Querido Bartolomeu eu não acho nada. Como já disse estou em desvantagem uma vez que por aqui vou contando muitas das minhas emoções, muito do meu dia a dia, misturado com alguns textos que são pura ficção mas que já percebi que quanto mais invento mais as pessoas acreditam... assim se explica a mediatização de certos casos policiais que andam na berra e de que ninguém sabe mesmo nada mas de quem todos falam com verdadeiro conhecimento de causa... e antes que os meus dedos me fujam para outro lado:
Neste blogue tenho publicado sempre poesia. Porque gosto de poesia como gosto de romance. Tenho feito os possíveis por publicar os clássicos contemporâneos que prefiro, mas também muitos que são praticamente desconhecidos do grande público. Alguns até que vou encontrando por acaso... esses acasos que a vida me oferece todos os dias e que felizmente não me apanham desatenta... ser modesta aqui para quê?
Por isso hoje vou publicar sem autorização um poema do Bartolomeu. E vou publicar aqui para quê se ele está no blogue dele http://avancando.blogspot.com/? Porque o meu amigo Bartolomeu me dedicou o poema, logo passou a ser tão meu quanto dele. Verdad?
E é assim que hoje termino, oferecendo a possibilidade de ficarem a conhecer o meu navegador preferido, porque é do tempo meu que é este quando.

16 setembro, 2007

Dia de Domingo - Gal Costa e Tim Maia - (clica aqui)

Eu preciso descobrir a emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer e ver a vida acontecer
Como um dia de domingo
Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
E deixar falar a voz do coração

Madrigal


Tu já tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor
(Eugénio de Andrade)

Assim não!

Desde ontem tenho estado atenta às consequências da entrada em vigor do novo código de processo penal português. Só o bastonário da Ordem dos Advogados vem dizer que o código é uma maneira de os tribunais trabalharem mais depressa. Mas como é que se põe a funcionar uma máquina que está emperrada desde sempre?
É certo que as instalações de uma boa parte dos tribunais foi melhorada mas aonde está o pessoal suficiente e com formação adequada para dar seguimento a tantos processos? Os mais complicados vão sendo arquivados por não serem tratados em tempo útil. Essa é que é a verdade. O novo código pode até ser uma coisa muito boa, não podia era ter sido posto em vigor assim sem mais nem menos, sem que as instituições fossem antes dotadas de meios para poderem contribuir para uma melhor justiça.
Mais uma vez põe-se o carro à frente dos bois. É preciso mostrar serviço? Vamos a isso. Se vamos ter alguns dos homens mais perigosos à solta assim sem mais nem menos, que importância tem? Se as suas vítimas ou famílias estão apavoradas que importa? O que importam os homens e mulheres deste país? O que importa são os números. O que importa é libertar as cadeias que estão sobre lotadas. Números senhores, haja números, estatística e está tudo bem. Até porque os números são facilmente manobráveis ao contrário de certas pessoas... e dão pouco trabalho.
Vejo as forças de segurança e os magistrados e pessoal do ministério público preocupados. Porque sabem que tão cedo não vão ter meios para agir de acordo com os novos prazos estabelecidos por este código. Provavelmente com a política de encolha de dinheiros nuca virão a ter. Quem ganha com isto? Os criminosos. Esses estão cada vez mais protegidos pela lei. Quem se lembra de proteger as vítimas?
Assim não, Zé!

15 setembro, 2007

This is a rebel song - Sinead O'connor (clica aqui)

I love you my hard englishman
Your rage is like a fist in my womb
Can't you forgive what you think
I've done
And love me, I'm your woman

Aflicto


A Marco Milani


Que la luz no se vaya de aquí hasta que se pudra,
hasta que se me deshaga
en lo que yo pudiera haber soñado
al mundo.

(Oswaldo Roses)

"Eu sou daqui, eu não sou de marte..."

e por isso não fui trabalhar hoje. Que bom haver um dia em que podemos dizer, hoje não me apetece ir trabalhar e não vamos e ninguém nos pode exigir um justificação nem marcar falta nem chatear com o que quer que seja. Que bom acordar e pensar no professor Agostinho da Silva esse poço de sabedoria que nos ensinou que "o homem não nasceu para trabalhar mas para criar"... mas sobretudo poder decidir o que fazer sem me sentir culpada nem em falta com ninguém. Que bom...
Sair de manhã cedo e caminhar à beira mar, cantando e fotografando o que me apetece. Cantando sim e por isso é que também digo àqueles que me olham desconfiados enquanto canto e rio na via pública que não sou de marte. É que não sei se os marcianos cantam. Acho que ninguém sabe. Espero que saibam cantar para o bem do universo. Porque cantar e rir são coisas boas e que por enquanto ainda não pagam direitos de autor. Por falar nisso: quem terão sido as primeiras pessoas a cantar e a rir? Bem quase que aposto que o homem primeiro aprendeu a rir, acto que não requer ensinamento e que se pode fazer em qualquer altura sem ser acusado por exemplo de desafinar... é claro que cantar é fácil, muito fácil. Difícil é cantar bem. Mas como diz o poeta, "no peito de um desafinado também bate um coração". Por isso perdoem-me o cantar mal e deixem-me continuar a cantar porque no meu peito também bate um coração.

14 setembro, 2007

Africa Nossa - Cesaria Evora (clica aqui)


África, África, África
África minha
África nossa.
Berço di mundo
Continenti di mundo

Nos teus dedos

Nos teus dedos nasceram horizontes
e as aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes

(Eugénio de Andrade)

O zé e mais do mesmo...

O governo decidiu dar mais dinheiro à justiça para 2008. Acho bem. Muito bem. O mesmo governo decidiu tirar dinheiro à saúde e à educação. Acho mal. Acho muito mal. Acho mesmo péssimo. Tenho-me perguntado vezes sem conta para onde vai o dinheiro dos nossos impostos. Eis uma questão fantástica. Porque quanto mais nos entram nos bolsos menos nos dão em troca. Das duas uma: ou nós somos uns queixinhas ou o governo quando acabar este mandato tem cheios os cofres do estado. Pois isto é mesmo assim, tudo com minúsculas que esta gente não merece mais.
Um dia destes, brincando, Bartolomeu perguntava-me se quando me doía o ouvido ia ao clínico geral ou ao otorrino. Pois é Bartolomeu, o ouvido é o menos que se vai tratando com umas mezinhas caseiras e se ficar surda melhor para mim que ele ouvem-se por aí coisas que melhor seria não ouvirmos para dormirmos muito descansadinhos na paz dos nossos anjos. E sempre são € 75,00 no mínimo que não me saem do salário, cada vez mais curto ao fim do mês... porque os meus impostos não são para pagar a saúde. Se calhar até servem para coisas muito mais importantes eu é que tenho este mau feitio de me apetecer de vez em quando dar uma de Scollari e correr tudo à porrada... Sim: no fim de contas para que é que uma gaja como eu cheia de saúde precisa de médico? Por isso não tenho médico de família... na volta hão-de achar que uma coisa assim a modos que monoparental como eu, não é uma família e por isso não tem direito a médico que esses com certeza foram criados para as verdadeiras famílias...
Não há dúvida que estas questões me fazem mal à saúde... não fosse eu despender energias ao fim do dia em caminhadas de 5 km não sei como me aguentaria sem médico, mesmo que não fosse de família, pronto... já me contentava com um mais modesto!

13 setembro, 2007

Message In A Bottle - Police 2007 (clica aqui)

I'll send an SOS to the world
I'll send an SOS to the world
I hope that someone gets my
I hope that someone gets my
I hope that someone gets my
Message in a bottle

O tempo


Quando voltará o tempo
a estender-se a nossos pés
como uma planície verdejante?
Que saudades das tardes imensas,
infinitas, em que brincávamos,
corríamos, descansávamos
e líamos, horas a fio,
esses romances que nos enchiam a alma
e que em nós se tornaram!
Durmo demais ou de menos?
Sou lenta ou, antes, apressada em demasia?
Manhãs e tardes esfumam-se
na voragem do dia-a-dia…
Nervosamente antecipo o pôr-do-sol,
enquanto percorro este labirinto
feito de momentos compartimentados,
intercalados por corredores
apinhados de ânsias e temores,
que são o meu tempo de hoje.
Sonho com o regresso do tempo infindo,
em que o corpo voltará a correr livre,
como criança, e o espírito, ousado,
voará mais alto do que nunca!
Tanto desejo esse tempo!
Tanto planeio criar
nessa planície verdejante!
Caiam paredes! Dilate-se o espaço!
Germinem sementes!
Estenda-se a nossos pés
a imensidão do tempo!

(Ilona Bastos)

Estou contigo, pá.

Não gosto de futebol. Não percebo nada de futebol. Para mim são 11 gajos mais outros tantos a correr atrás de uma bola. Se calhar se dessem uma bola a cada um dos grupos a coisa seria muito mais fácil. Quem sabe algum ilustre dos senhores do futebol passe por aqui e siga a sugestão. Ou então pôr os jogadores um por um em frente à baliza para marcar golos e pronto. Afinal não é o que conta? os golos... e é por causa dos golos ou da falta deles que eu hoje venho aqui falar.
Não. Sobre futebol tenho dito. Eu resolvia o problema em dois tempos, os jogadores ganhavam menos mas ficavam com tempo para se dedicarem a outras actividades, também descontavam muito menos para a segurança social... pronto, vocês já sabem que eu vejo sempre o lado bom das coisas. É a mistura de sangue que me corre nas veias que me dá a alegria que vai faltando por cá.
Mas eu quero mesmo é dizer ao Filipe que continuo com ele. Como sempre. Estive com ele quando todos o detestavam, estive com ele quando todos o amavam e continuo com ele agora que ele resolveu partir para uma acção mais concreta em defesa de um "menino" que é cigano e que, como tal não tem quem o defenda... o sérvio que se ponha a pau ou é capaz de ver a vida um pouco mais complicada.
(Aqui para nós essa coisa do fair-play é muito bonita desde que não nos pisem os calos).
Isto do Quaresma ser cigano é apenas uma brincadeira minha. É claro que Luís Filipe se levantaria para defender qualquer dos seus "meninos". Adoro esta... aqueles matulões tratados com tanto carinho. Isto só pode vir de um homem bom. Um homem que veio hoje pedir desculpa a um país, a um povo inteiro, embora se sinta com razão.
Por mim as desculpas estão aceites. A mim nem precisavas de pedir desculpa. Sou de paixões e de indiferenças. Ódios não são comigo. É por isso que sou tão feliz. Acontece que gosto de ti pá. Gosto desse teu jeitinho ternurento de falar com os teus meninos. Por isso já sabes, mesmo que um país inteiro se esqueça do que fizeste, mesmo que as últimas bandeiras nacionais, rotas e descoloridas sejam retiradas das varandas e janelas deste país, eu que nunca pus nenhuma bandeira à janela, estou contigo. Sempre.

12 setembro, 2007

Manège à Moi - Etienne Daho (clica aqui)

Tu me fais tourner la tête
Mon manège à moi, c'est toi
Je suis toujours à la fête
Quand tu me tiens dans tes bras
Je ferais le tour du monde
Ça ne tournerait pas plus que ça
La terre n'est pas assez ronde
Pour m'étourdir autant que toi...

Somos como árvores


Somos como árvores
só quando o esej é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.


(Eugénio de Andrade)

Educar é urgente.

É realmente quando começa o ano lectivo que se começa a sentir a agitação da cidade. Hoje foram poucos os estudantes que começaram mas a partir da próxima semana sentiremos com certeza o efeito do começo do ano lectivo.
Ontem o Bartolomeu falava em bombinhas de mau cheiro que se punham nas salas de aula pelo carnaval. E outras diatribes que todos nós fizemos mais ou menos inocentes.
Hoje é com certeza muito difícil ser professor na maior parte das escolas do país. O ensino democratizou-se e ainda bem mas os pais não têm tempo ou não querem educar os filhos, delegando nos educadores e professores a tarefa que lhes compete em primeiro plano.
Não me parece que seja possível a um professor ensinar o que quer que seja numa sala de aula onde os miúdos se divertem a conversar, a jogar game boy ou a falar ao telemóvel. Como também não me parece que o nível educacional do nosso povo, permita que os professores sejam avaliados pelos encarregados de educação. Como é que gente que despeja os miúdos em creches e escolas se pode achar no direito de avaliar um professor?
O ensino em Portugal não está, como seria de esperar cada vez melhor, mas antes pelo contrário. O nível de iliteracia é muito elevado. Há uma grande percentagem de gente incapaz de interpretar um texto simples.
Não sei como se poderá dar a volta a este estado de coisas, mas não me parece que despejar miúdos um dia inteiro na escola os vá tornar melhores alunos ou melhores pessoas (o que é sem dúvida muito mais importante). Também não me parece que aumentar a carga horária dos professores vá solucionar o que quer que seja. Estou convencida que uma boa parte deles adoecerá rapidamente e que o diagnóstico será quase sempre frustração.
Ainda bem que fugi ao que parece ser uma sina da minha família e cedo percebi que ensinar meninos não é com certeza o meu maior talento. Menos ainda, meninos mal educados.

11 setembro, 2007

You're Unbelievable - EMF (clica aqui)

You burden me with your problems
By telling me more than mine
I'm always so concerned
With the way you say
You've always go to stop
To think of us being one
Is more than I ever know
But this time, I realize
I'm going to shoot through
And leave you

The things, you say
Your purple prose just gives you away
The things, you say
You're unbelievable

Identidade


Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.

Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.

Mas como as inscrições nas penedias
Tem maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção

(Miguel Torga)

Um 11 de Setembro só para mim.

Faço parte do cada vez mais restrito número de pessoas que defende a presença dos emigrantes em Portugal. Na realidade penso que são necessários e que essa necessidade é recíproca, isto é, eles também precisam do nosso país.
Quando me encontro no estrangeiro respeito as regras e o "modus vivendi" da população e se cometo alguma indelicadeza será por ignorância. É por isso que, mesmo defendendo os emigrantes não posso tolerar as atitudes de uma meia dúzia que só servem para que a população não os queira entre nós.
Aqui há uns anos tive uma ligeira altercação com um brasileiro que criticava a morosidade dos transportes em Lisboa (que tudo funcionasse como os transportes não era nada mau...). É que a gente até pode gostar de dizer mal do que temos mas ouvir um estranho dizer mal do que temos é uma afronta. Pelo menos para mim e sobretudo vindo de um cidadão oriundo de um país onde nada funciona melhor que em Portugal. É claro que lhe perguntei logo porque é que permanecia em Portugal sendo isto tão mau. O homem remeteu-se ao silêncio e a altercação ficou por ali.
Hoje, quando fazia o seu trabalho, o revisor do comboio em que eu viajava de manhã, acordou um tipo (eu sei que devia dizer gajo, mas pronto, fica assim) que dormia deitado em dois bancos do comboio e pediu-lhe que mostrasse o bilhete. Ele não tinha bilhete. Era um jovem com cerca de 20 anos e apesar da maneira mal educada como respondeu ao revisor este nem sequer lhe pediu a identificação dando-lhe a entender que não queria que ele arranjasse problemas mais graves. Também não passou o papelinho da multa. Limitou-se a pedir-lhe que se levantasse e que abandonasse o comboio na próxima paragem que o mesmo fizesse.
Até que isso acontecesse o bate boca continuou e quando o homem saiu o tom ficou ainda mais azedo de tal modo que um passageiro decidiu intervir em defesa do funcionário da CP. Quando eu pensava que estava tudo resolvido e que o comboio ia partir o tipo desce da plataforma para a outra linha, pega numa pedra, sobe a outra plataforma e arremessa a pedra que me passa a escassos milímetros da cabeça. Imediatamente houve gente a correr atrás dele mas o gajo era bem ligeiro e escapuliu-se, deixando os perseguidores com um imenso sentimento de frustração.
Não sei de que nacionalidade era o sujeito mas tinha sotaque brasileiro.
E pronto. Foi assim que começou um 11 de Setembro inventado por algum ser superior só para mim e eu para continuar a ter a certeza que o meu anjo da guarda é bem poderoso e não deixa que nada de mal me aconteça.

10 setembro, 2007

Lua - Mayra Andrade (clica aqui)

Luâ fika ku mi más um kusinha
Dexâ-m lambuxa na bo,
Limia nha korpu ku káima!

Quando em silêncio


Quando em silêncio passas entre as folhas,
uma ave renasce da sua morte
e agita as asas de repente;
tremem maduras toas as espigas
como se o próprio dia as inclinasse,
e gravemente, comedidas,
param as fontes a beber-te a face
(Eugénio de Andrade)